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À medida que se aproximam os “idos de Março”, as coisas vão talvez ficando um pouco mais claras. Ao contrário de “paineleiros” e comentadores televisivos, quase tantos como os duzentos e tal deputados a eleger, não faço a menor ideia do efeito dos debates no voto. Vi um, de fio e pavio, e tenciono ver mais dois ou três onde apareça o único candidato a deputado que é, realisticamente, o único “candidato” a primeiro-ministro. Todavia, é impossível, mesmo assim, ser indiferente ao “ambiente” criado pelos debates, nomeadamente nas redes sociais, nas quais, feitas os devidos expurgos, tendo a confiar mais do que nos tradicionais meios de Comunicação Social. Estou farto de jornalistas “partisans”, de editoriais ideológicos, de reportagens panfletárias, de comentários de agenda. Não existe um átomo de isenção e, simultaneamente, o cuidado de fazer preceder as coisas de declarações de interesses. Nós sabemos ao que vêm, evidentemente, mas convinha que eles e elas, antes de prolatar, as fizessem.
Eu, aqui no meu cantinho semanal, faço-o sempre que há eleições. Regressando ao tal ambiente, porventura algumas circunstâncias poderão estar já apuradas.
O secretário-geral do PS, por exemplo, era apontado naqueles meios como um vigoroso caso de novidade e de sucesso político-partidário. Os debates, no entanto, revelaram (e vão continuar a revelar) um tipo que, afinal, não é novidade nem sucesso alguns. O homem que foi um ministro impreparado, superficial, “ideológico” e excessivamente vocal durante quase oito anos era agora, em escassas semanas, convertível num, ao menos razoável e sólido, candidato a chefiar um Governo? Ele, posto no lugar (e depois na rua) e desautorizado pelo seu primeiro-ministro por leviandade especulativa com coisas tão sérias como um novo aeroporto, era ele que ia agora gerar confiança e credibilidade junto ao eleitorado? Um tipo, que, perante as vicissitudes de processos judiciais em curso, mudou, em três dias, três vezes de posição, como se a justiça pudesse ser revista a quente por uma opinião de vão de escada? Até o “comentariado” mais perto dos interesses socialistas entendeu que o homem “não vai lá”. E, naquele que é um dos momentos mais imbecis desta pré-campanha - o de dar notas aos incumbentes (quando alguns dos “notadores” a avaliadores nunca souberam distinguir as respectivas mãos esquerdas das direitas) -, o desforço obriga a baixar a classificação do barítono socialista. Enfim, haja paciência para aguentar o resto do exercício, fazendo eu votos para que o país distinga o útil do inútil para mudar. Porque, não duvidem, mudar é preciso.
