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A mudança de quase um terço do Executivo no preciso dia em que o Conselho de Ministros aprovava o Orçamento do Estado vem recordar-nos o que realmente conta: António Costa faz política, Mário Centeno guarda o cofre. O resto, podendo até ter substância, é sempre circunstancial.
Tenho simpatia por José Alberto Azeredo Lopes, que foi meu professor na Universidade Católica e com quem, ao longo dos anos, trabalhei em diversos projetos. Partilhámos várias batalhas, quase sempre do mesmo lado da trincheira. Azeredo Lopes não perdeu as suas qualidades devido à sua malsucedida passagem pelo Ministério da Defesa. O facto é que tudo o que podia correr mal em temas sensíveis - e o caso de Tancos era, é e será sempre muito sensível -, não correu mal, correu péssimo.
Depois da triste história do Infarmed, do caos no Hospital de Gaia e da confissão de impotência no processo da Ala Pediátrica do S. João já sabíamos que não havia ministro da Saúde. Havia um senhor que entregava os cheques que, a muito custo, o colega das Finanças lhe dispensava. Saiu. Tarde e sem honra nem glória.
As restantes mexidas no elenco ministerial não são propriamente relevantes. A Economia e a Cultura estavam entregues a figuras sem peso político, nem jeito para o cargo - Caldeira Cabral há muito não passava de um corta-fitas. Estes são agora substituídos por outros, naturalmente mais próximos do líder e supostamente com mais garra. Esta remodelação que aparenta uma forte mudança, é, no fundo, conservadora. Serve para levar até às eleições um Governo cujo programa e agenda há muito se esgotaram. Ou seja, não se espere de nenhum dos novos ministros algum rasgo reformista ou empreendedor. Mesmo o eventual problema de termos um orçamento proposto e negociado por uns ministros e, depois, executado pelos seus sucessores não é uma verdadeira questão quando se sabe que, mais do que de todo o Governo, este orçamento é de Mário Centeno.
António Costa ficará eternamente grato ao seu guardião das finanças por quatro anos de algum crescimento económico, aumento da overdose fiscal e mão de ferro na gestão dos recursos. O primeiro-ministro poderia agradecer às empresas, aos empresários e aos trabalhadores pelo aumento da riqueza nacional. Mas as empresas, os empresários e os trabalhadores - a economia real que faz Portugal crescer -, não iam seguramente aplaudir o aumento dos ordenados na Função Pública e o aumento de despesa em todos os ministérios.
*EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO