Agora que falamos tanto de construção e destruição europeia, do Brexit ao orçamento de Roma, valia a pena pararmos para lermos, ouvirmos e estudarmos com que influências é que de facto nos tecemos como continente e como conteúdo.
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Ouvi, há uma semana e pouco, o professor Henrique Leitão (Prémio Pessoa 2014) falar do maior empreendimento humano, o desenvolvimento científico, e daquilo que esteve na base deste acontecimento que determinou em larga medida a Europa como hoje a conhecemos.
Em traços muito largos e sujeita a incorrer em faltas graves, deixo, ainda assim, as seguintes ideias de força grosseiramente retiradas do seu discurso:
- O que possibilitou um desenvolvimento científico sem paralelo na Europa a partir dos séculos XV, XVI e XVII foi o derivado cultural do cristianismo, intensivamente incorporado pelos europeus e que os posicionou corretamente perante a natureza;
- Mas o que é que o cristianismo tem a dizer sobre o Mundo / sobre a natureza?
- Coisas importantíssimas, pouco conhecidas e com um impacto extraordinário sobre a história!
Primeiro: o Mundo é criado. É feito de coisas! Sem mitos. A Lua, os rios, os trovões, o mar ou o Sol - não são espíritos ou deuses - são coisas criadas;
Segundo: são coisas boas - Deus criou o Mundo e viu que o Mundo era bom!
Terceiro: o Mundo foi criado para nós; ou seja, para que o possamos conhecer;
O cristianismo faz, assim, uma afirmação da positividade da realidade e a cultura ocidental incorporou estes conceitos de forma radical e definitiva.
O processo foi progressivo, lento e tributário da consolidação do pensamento cristão (sobretudo até Alberto Magno e Tomás de Aquino) bem como do desenvolvimento da instituição universitária. Mas esteve sempre assente nesta espécie de bomba epistemológica de que tudo na natureza, tudo no Mundo, é criado e passível de ser entendido. Hoje é a matéria negra ou a descodificação do genoma, amanhã será outra coisa qualquer. Será sempre, sabemo-lo, apenas uma questão de tempo.
O que tudo isto implica do ponto de vista do evoluir da nossa história, no direito, nas artes, na instituição universitária ou na ciência, é algo de muito importante na história da Europa; ter dúvidas sobre a inscrição da influência do cristianismo no prólogo da Constituição europeia é só um dos mais pequenos exemplos de um desconhecimento generalizado ou de uma miopia imposta!
*ANALISTA FINANCEIRA