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A tristeza que invadiu o mundo do futebol, e não só, pela trágica morte dos irmãos Diogo Jota e André Silva num acidente de viação em Espanha é unânime. Ninguém ficou indiferente à destruição de uma família e é impossível imaginar o que sentem os pais e a mulher de Diogo, com três filhos pequenos pela mão, num momento como este. Mas, no dia do funeral, outra questão assaltou as mentes de muitos portugueses. Constatado o facto de Cristiano Ronaldo não ter estado presente nas cerimónias fúnebres, haverá razão plausível que o justifique? Se Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Rúben Dias, Diogo Dalot, Danilo, Nélson Semedo, João Cancelo, já para não falar no selecionador Roberto Martínez e em Rúben Neves, o melhor amigo de Diogo Jota, marcaram presença em Gondomar, não deveria o capitão das quinas ter lá estado também?
Talvez Ronaldo tenha desejado poupar a família enlutada ao turbilhão mediático que o simples vislumbre do astro madeirense em qualquer lado sempre provoca. Embora isso não seja público (nem tinha de ser), também não custa nada acreditar que, depois de uma sentida publicação nas redes sociais, o avançado do Al Nassr tenha falado com os familiares dos irmãos malogrados, mostrando-se disponível para ajudar no que for preciso. Mas a menos que, passada a espuma dos dias, alguém venha assumir que foram a mulher ou os pais de Diogo Jota e André Silva a pedir a Cristiano Ronaldo para não estar presente, é complicado aceitar esta ausência. O maior símbolo da história do futebol português tem à disposição todos os meios possíveis para se deslocar de um dia para o outro a partir de qualquer local do planeta. Ou seja, não era nada difícil viajar para Gondomar.
O craque lá terá as suas razões para ter decidido não estar presente e podem também vir as irmãs defendê-lo das críticas que se ouviram mal se percebeu que CR7 não estava no funeral. Têm esse direito. É, no entanto, difícil deixar de pensar que, no contexto do futebol e da seleção, partilhar a dor num momento tão duro como este também é o papel de um capitão. Por muitos flashes dos fotógrafos ou inconvenientes gritos por Ronaldo que se ouvissem nas redondezas da igreja, que importância teria isso num momento como este? Haverá alguém mais habituado a lidar com a pressão mediática do que Cristiano Ronaldo? Neste caso, primar pela ausência foi muito mais do que um golo falhado de baliza aberta.