Acaba de ser divulgada a oferta de cursos de licenciatura, e respetivas vagas, para os novos estudantes de Ensino Superior. São mais de 54 000 vagas em mais de 1000 cursos de todas as áreas científicas.
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No geral, não temos em Portugal, ao contrário de outros países da Europa, dificuldade em atrair jovens para as áreas das ciências e tecnologias, seja no Ensino Secundário ou no Superior. Até ao 12.o ano, jovens rapazes e jovens raparigas escolhem maioritariamente estas áreas de estudo. Porém, quando se passa para o Ensino Superior o número de raparigas a fazer estas escolhas é proporcionalmente menor. Não há, evidentemente, qualquer problema de capacidade de aprendizagem destas profissões, mas parece existir um desinteresse das raparigas por algumas engenharias, como as de informática, de computadores, de redes ou de sistemas de informação, bem como pela ciência de dados, a matemática e a estatística. A taxa de feminização nestes cursos deve ser da ordem dos 20%. E isto é um problema.
Problema porquê? Porque é tão importante ter mulheres na engenharia? Costumo responder que hoje é ainda mais importante do que no passado. Porque estas são as áreas disciplinares que estão na base do processo de transformação digital. As tecnologias digitais são decisivas em todos os campos de atividade, nas soluções que procuramos encontrar para todos os desafios societais. Precisamos que a construção do futuro, tão dependente e determinado por estas tecnologias, seja feito por homens e mulheres.
O estudo da feminização das diferentes profissões, dos obstáculos e dos fatores facilitadores, tem uma longa tradição nas ciências sociais, tendo como objetivo não apenas a compreensão do fenómeno, mas sobretudo a remoção de obstáculos, sejam eles culturais, psicológicos, simbólicos ou legais. No caso das engenharias são várias as iniciativas de diferente tipo que visam atrair mais mulheres para a profissão. Integrei este ano o júri de um programa de prémios para jovens estudantes de engenharia que definiu como objetivo a atribuição de pelo menos 50% dos prémios a raparigas. É apenas um exemplo.
Atrair mais mulheres para as engenharias exige que se olhem os cursos que estão a ser oferecidos (são poucos, menos de 100) e que se modernizem os seus currículos. Não chega fazer apelos ou dizer às estudantes que aquele conhecimento está ao seu alcance. É preciso mais. É preciso ampliar e diversificar a oferta formativa e fazer evoluir o paradigma de formação nas engenharias tornando mais evidente para as mulheres que esse mundo também é para elas.
*Professora universitária