Quinhentos anos depois, a história repete-se. Ou talvez não.
Corpo do artigo
No dia 31 de outubro de 1517 Martinho Lutero afixou na Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, as suas 95 teses, as quais atacavam sobretudo a prática da Igreja Católica de venda de indulgências para angariar fundos. Lutero condenou a avareza e o paganismo da Igreja, ainda que muitas outras coisas houvesse para criticar. No fundo, Lutero desejava uma profundíssima reforma da instituição católica. Esta viria a verificar-se no Concílio de Trento (1545-1563), mas não se fez com Lutero, que tinha sido excomungado em janeiro de 1521: fez-se por reação à Reforma Protestante por ele promovida. Ele teve o dom de despertar na Igreja Católica a necessidade de se reformar.
Quinhentos anos depois, quando a Igreja alemã vive um processo sinodal de reflexão sobre o futuro do cristianismo naquele país, um movimento de mulheres, denominado "Maria 2.0", quis dar visibilidade às preocupações no feminino para a Igreja Católica. Afixou nas portas de igrejas e catedrais por toda a Alemanha as suas sete teses, evocando o gesto de Lutero. Também elas querem abanar a instituição para que sejam desbravados novos caminhos.
Nas sete teses pedem que não sejam vedados determinados cargos em função do sexo. Pretendem uma maior participação de todos nas decisões eclesiásticas. Defendem maior transparência e respeito pelas pessoas vítimas de abusos sexuais. Recomendam a revisão da moral sexual. Propõem o fim do celibato obrigatório. Querem ver na Igreja uma maior responsabilidade e sustentabilidade na administração dos bens materiais. Aspiram a uma Igreja menos alienada das questões que preocupam os homens e mulheres de hoje.
Já se erguem vozes com discursos de excomunhão e de mão dura para controlar este e outros movimentos. Oxalá não se cometa o mesmo erro que há quinhentos anos: é melhor que elas contribuam para a renovação da Igreja do que serem postas fora desse dinamismo.
Também será decisivo para o bom curso do processo que as católicas alemãs não queiram impor as suas teses. Só com diálogo se poderá construir um futuro melhor para a Igreja.
*Padre
