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A PSP denunciou à Comissão de Proteção de Criança e Jovens em Risco (CPCJ) uma mãe por alegadamente ter colocado em risco o filho. Motivo: passeou com o bebé, devidamente acomodado num carrinho, na rua quando estava mau tempo. Pormenor nada despiciendo: o episódio ocorreu em Faro durante um desfile do Dia Internacional da Mulher. Ou seja, no passado dia 8, no último dia de uma campanha eleitoral marcada, também, pela discussão dos direitos da mulher, como o acesso ao aborto. E o encaminhamento para a CPCJ foi divulgado na semana passada, já depois de conhecidos os resultados das legislativas, que ditaram a vitória do Chega precisamente no distrito algarvio.
Os ultrazelosos agentes terão começado por questionar o percurso do desfile junto das organizadoras e, ao verem uma mãe com um carrinho de bebé, quiseram saber se iria participar com o menino. Perante a resposta afirmativa, terão dito que tal constituiria um risco para a segurança do menor, denunciou a Rede 8 de Março. O argumento é que estava a chover e que, tratando-se de uma manifestação, poderia haver situações de risco, como uma contramanifestação, não podendo as autoridades assegurar, nessa circunstância, a segurança dos participantes. Perante a insistência da mulher em participar na marcha, os polícias ameaçaram reportar a situação à CPCJ. O que viria a acontecer.
Esta situação encerra diversos absurdos, mas o primeiro é mesmo a definição de prioridades de ação da PSP de Faro. Não há crime no Algarve para dissuadir e combater? Nada mais útil para fazer do que questionar mães em dias de chuva? Depois, impõe-se a clarificação do que é colocar um menor em perigo. Os diligentes agentes vão questionar todas as pessoas que andem na rua com crianças quando está mau tempo? Ou só perseguem as pessoas do género feminino? Ou apenas as que participem em iniciativas feministas?
Aguarda-se, claro, pela atuação da CPCJ que, como se sabe, debate-se com a crónica falta de técnicos para acudir aos reais casos de menores em risco. Mas impõe-se uma tomada de posição por parte da Direção Nacional da PSP sobre esta situação e a sua estratégia de atuação.