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Amanhã é Dia da Mulher. E três dias depois vamos a votos para as legislativas. Dos partidos com representação parlamentar, PSD, PS, PAN, Livre, IL, PCP, BE e Chega, apenas dois dos mais pequenos são liderados por mulheres. Como as campanhas estão agora personalizadas e centradas nos líderes, como se estivéssemos a eleger o primeiro-ministro e não o conjunto de deputados, a ausência de mulheres é mais evidente. Nas imagens televisivas é impressionante, e até inestético, o número de homens que rodeiam o “chefe”.
Uma das marcas mais importantes dos 50 anos de democracia é a alteração no estatuto e na condição das mulheres na vida pública e privada, no acesso a profissões, a lugares de responsabilidade e de tomada de decisões que antes lhes estavam vedadas. Porém, há ainda muito caminho para fazer.
Em primeiro lugar, na política e na direção de empresas e de instituições públicas. Na política, o exemplo que mais envergonha é o dos presidentes de Câmara - menos de 10% são mulheres, 29 em mais de 300. Os partidos políticos e os movimentos de cidadãos lá vão cumprindo a lei da paridade, mas no que toca à liderança os lugares ficam reservados aos homens. Na direção de empresas e de instituições públicas, o fechamento é igualmente evidente. Para as mulheres nunca é suficiente serem competentes e empenhadas. É necessário ter uma combatividade e uma energia, uma capacidade de resistir a críticas e a obstáculos, que não se colocam aos homens candidatos aos mesmos lugares.
Em segundo lugar, os sacrifícios e as exigências que são colocados às mulheres, tanto às que ousam ou que estão disponíveis para lugares de responsabilidade, como para aquelas que simplesmente trabalham. As diferenças salariais e a conciliação do trabalho com a vida familiar são problemas não resolvidos.
Em terceiro lugar, os preconceitos e os estereótipos. Manifestam-se com particular acuidade em momentos de disputa política como o que vivemos nas últimas semanas. Mas têm raízes profundas, são generalizados e socialmente partilhados, por homens e mulheres, podendo ressurgir e fazer perder muitos dos direitos conquistados.
A minha mãe não teve uma profissão. Teve uma vida dedicada a cuidar da casa e da família, de mim e da minha filha. Perguntou-me, uma vez, de entre as muitas em que me substituiu no meu papel de mãe e perante a minha pressa, porque queria eu ser tão independente e tão empenhada no meu trabalho, quando isso me impedia de ter tempo para me sentar sossegada a tomar um chá, com ela. Dei-lhe um beijo e pensei: se eu fosse um homem não me farias tal pergunta.