O nome do maestro e pianista Daniel Barenboim foi ontem proposto para o Prémio Nobel da Paz. O anúncio encontra-o na capital da Coreia do Sul, na primeira digressão asiática da Orquestra West-Eastern Divan.
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Todas as orquestras têm as suas particularidades, mas esta é, pode dizer-se, mais diferente do que as outras. Constituída por jovens músicos de Israel, Palestina, países árabes do Médio Oriente e Espanha, foi criada em 1999 a partir de uma ideia dos responsáveis do Festival de Artes da cidade alemã de Weimar. O argentino Daniel Barenboim e o intelectual palestino Edward Said deram corpo à ideia de que é possível juntar no mesmo palco, na mesma sinfonia, nos mesmos ensaios e digressões, gente que cresceu e vive num permanente clima de guerra.
Toda esta história é feita de misturas, fugas, regressos, nacionalidades cruzadas. Daniel Barenboim é filho de judeus russos radicados na Argentina, vive em Berlim e tem dois passaportes: da Argentina e de Israel. Edward Said, que morreu em Nova Iorque em 2003, tinha também duas nacionalidades - era palestino e norte-americano - e nasceu em Jerusalém, para onde o pai, cristão, regressou depois de ter vivido emigrado nos Estados Unidos.
A própria orquestra começou por actuar em Weimar e depois em Chicago, e acabou por ser acolhida em Sevilha pelo governo da região da Andaluzia.
Hoje é, diz o calendário, o Dia Internacional da Juventude, por decisão das Nações Unidas. Estas datas são pretextos para nos determos num tema importante à escala global e merecem mensagens dos altos-responsáveis com apelos tão sensatos que passam despercebidos.
É talvez o caso da mensagem de Ban Ki-moon que há-de assistir hoje ao concerto da orquestra de Barenboim, porque também ele está na Coreia do Sul. O secretário-geral das Nações Unidas apelou aos jovens para que se empenhem em mudar o Mundo. Apelo simples e intencional, nestes dias em que vemos os dramáticos e sintomáticos motins em Inglaterra, num momento em que a incerteza do futuro é a única certeza disponível em todo o Mundo.
Diz o homem das Nações Unidas: "Nunca subestimem o poder dos indivíduos para fazer a diferença e mudar o Mundo".
Edward Said tinha plena consciência disso mesmo, tal como o maestro que é agora proposto para o Nobel da Paz. Haverá outros candidatos, alguém receberá o Prémio das mãos do rei da Noruega. Logo se verá.
Mas confesso que gostava de estar hoje em Seul a ouvir a orquestra dos jovens músicos a tocar Beethoven.