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Na passada quarta-feira, fez-se silêncio absoluto em Hiroxima. Eram oito e um quarto da manhã e passavam precisamente 80 anos pela explosão do Sol, o dia em que morreram 150 mil pessoas só no primeiro impacto. Os americanos chamaram "Little Boy" à primeira bomba atómica, um "pequeno rapaz" com 64 quilos de peso em urânio que equivalia a vinte milhões de quilos de explosivos. Os japoneses que estavam na rua viram o Sol a explodir, não perceberam sequer do que se tratava, só depois... o horror das radiações, a cidade evacuada, os bebés que nasciam monstruosos. Milhares de japoneses fizeram silêncio em Hiroxima na passada quarta-feira. Não houve lágrimas, mas os mais jovens, e até as crianças de colo, escutaram a história dos sobreviventes. O choque de Hiroxima é incompreensível, mas verdadeiramente o que é absurdo, o que me rebenta por dentro, é a segunda bomba, o devastador ataque a Nagasáqui, três dias depois. Os japoneses já estavam arrumados, Hitler suicidara-se há três meses e o Mundo já sabia que milhares e milhares de pessoas tinham sucumbido em Hiroxima, nunca tanta gente morrera ao mesmo tempo num único segundo. Saber tudo isso e ordenar um segundo ataque, três dias depois, é do domínio da loucura humana, do não sentido, da bestialidade. Amanhã, a cidade portuária de Nagasáqui também fará silêncio. E este será mais penoso e esmagador, por ser um silêncio que recordará o quanto continuamos a ser capazes de tudo.