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Recentemente os mais atentos foram alertados pela Comunicação Social para uma realidade infelizmente antiga, mas transversal a muitos centros hospitalares deste país - camas de hospitais ocupadas por pessoas sem retaguarda familiar, maioritariamente idosas.
Este tema tem sido, ao longo de vários anos, objeto de acesas discussões entre dirigentes hospitalares, ansiosos por encontrar soluções para casos de pessoas em estado de grande fragilidade, que ocupam camas hospitalares sem necessidade de cuidados médicos. São seres humanos que carecem de cuidados adequados à sua condição de dependentes, que bem poderiam ter resposta na participação complementar do setor social, do setor privado em complementaridade com o setor público, designadamente através de cuidados domiciliários eficazes, que cobrissem áreas vastas do território. Durante a pandemia, tempo em que estes casos de internamento cresceram, deveria ter surgido, entre quem tem poder, um sentido de justiça reformista que permitisse que estas situações fossem resolvidas a montante dos centros hospitalares. Os profissionais de saúde não chegam para cuidados geriátricos, sociais e hospitalares em simultâneo.
Para que o SNS resista aos desafios do futuro, o capital humano é essencial, na medida em contribui para a sustentabilidade do sistema de saúde. Surgiram como referido relatos de 1600 pessoas internadas que são consideradas casos sociais, uma questão que demanda uma verdadeira articulação entre o Ministério da Saúde e a Segurança Social. Essa situação reflete a necessidade de uma abordagem integrada para lidar com as complexidades enfrentadas por estes indivíduos, que muitas vezes apresentam simultaneamente desafios médicos, sociais e económicos. É importante definir o significado de “caso social” em contexto hospitalar. São pessoas que, embora não possuam uma patologia que exija tratamento médico intensivo, não têm condições para receber alta por falta de suporte social, ou condições adequadas de vida fora do ambiente hospitalar. Entre os principais motivos, estão a ausência de um lar adequado, a falta de recursos financeiros para sustento próprio e a carência de assistência social.
O Ministério da Saúde, enquanto responsável pela gestão e organização dos serviços de saúde no país, deve garantir o atendimento médico adequado para a população. A Segurança Social é responsável por fornecer suporte e proteção social aos cidadãos, buscar e promover a inclusão e a qualidade de vida. Portanto, a articulação efetiva entre essas duas entidades é fundamental para buscar soluções apropriadas para cada caso. É essencial que os responsáveis pelos diversos serviços envolvidos se concertem, repensem novas metodologias, que haja uma maior articulação, sempre com o doente no centro da decisão, mas sem esquecer que os profissionais são essenciais.
Importa, por isso, que qualquer decisão se foque também em tornar atrativa a carreira médica, ou nunca haverá médicos talentosos e profissionais que cheguem, no serviço público.
*Médico