A remodelação foi míni e muito virada para tentar estancar as críticas vindas do interior do próprio PSD e ainda criar um efeito de esperança nos autarcas sociais- -democratas que tenham a responsabilidade de ir a votos em outubro próximo. Já não é mau, mas falta o essencial: atenuar a carga fiscal que abate empresas, faz crescer o desemprego e não permite aos bolsos da maioria da classe média consumir para além dos mínimos indispensáveis a uma vida socialmente vegetativa, em algumas franjas sob regime de novas formas de pobreza envergonhada.
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Passos Coelho fez o que a sua longa experiência da máquina laranja lhe aconselhava certamente: quando ao hipercriticismo de Pacheco Pereira se juntam vozes tão ou mais críticas, e sobretudo muito mais orgânicas quanto as de Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, António Capucho, Paulo Rangel ou Rui Rio - algumas delas colocando em causa dimensões de competência do Governo - a primeira urgência do presidente do PSD é seguramente pacificar as várias tendências e capelas. No caso, o problema até estava simplificado porque, genericamente, as tendências e capelas descontentes se reuniam na mesma igreja, a do cavaquismo.
Eis o que explica a chamada ao Governo de Marques Guedes para o lugar mas não a função de Miguel Relvas. Para utilizar uma imagem: o para-raios foi substituído pelo mata-borrão.
Eis também o que explica que, na disputa pela disputa da gestão dos dinheiros comunitários, entre os ministros da Economia e das Finanças, Passos Coelho tenha optado por evitar declarar um vencedor, preferindo correr os riscos de apostar num jovem com credenciais académicas mas inexperiente nestas andanças políticas.
A aposta no jovem Poiares Maduro tem ainda o condão de deixar respirar o Governo na relação cada dia mais tumultuosa com os autarcas, incluindo os dos partidos da coligação e em particular os laranja que terão a responsabilidade de impedir que a crise redunde numa goleada eleitoral favorável ao PS.
Feita a remodelação, resta a Passos Coelho o essencial e sem o que não chegaremos às autárquicas de outubro com país: dar folga aos bolsos dos portugueses.
Para isso vai ter de convencer-se a si, em primeiro lugar, e a Vítor Gaspar, depois, que da austeridade não haverá ressurreição, caso a capacidade de consumir dos portugueses continue a ser esmagada pela carga fiscal. Voltar a trazer o IVA para os 13 por cento na hotelaria e em certas atividades do setor do turismo e baixar as taxas de IRS nos escalões mais baixos e intermédios é tão óbvio que só não verá quem não queira ou não perceba que 90 por cento das empresas vivem do que nós consumimos.
E nem sequer é preciso abandonar a austeridade. Basta focá-la na despesa e não na receita, a fiscal incluída.