Para os portugueses o que se passa em França é insólito, no sentido em que a idade da reforma em Portugal está nos 66 anos e quatro meses.
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Emmanuel Macron enfrenta uma onda de protestos nunca antes vista por aumentar a idade da reforma dos 62 anos atuais para os 64 anos, com a agravante de os cidadãos franceses saberem ao que iam porque era uma das suas promessas eleitorais. Claro está que nenhuma reforma que aumente a idade de aposentação é popular, mas também em nenhum outro país europeu levantou tanta polémica. Outros tomaram medidas semelhantes há mais de uma década e foi relativamente pacífico. A última, em Portugal, foi feita por Pedro Passos Coelho, em 2014, quando a idade legal da reforma aumentou dos 65 para os 66 anos, numa altura em que o país estava a sair do resgate da troika. Muitos dirão, mais uma vez, que somos um país de brandos costumes. Não é isso que está a acontecer em França. As autoridades enfrentam um bloqueio político, múltiplas e massivas manifestações pacíficas, e também ações violentas de uma minoria de manifestantes, envoltas em acusações de violência policial. O presidente francês estava ciente do risco que corria e, após a adoção da reforma por decreto e superadas as duas moções de censura, a lei aguarda parecer do Tribunal Constitucional. Apesar disso, as tensões não têm fim à vista.
A extrema-direita de Marine Le Pen espera colher os frutos do descontentamento. Macron descobriu agora que, numa democracia, não basta cumprir uma promessa, ou seguir os procedimentos constitucionais, ou mesmo ter razão. Há que convencer e isso não foi conseguido. O presidente francês está a pagar pelo desprezo com que tratou os sindicatos e a sua incapacidade de construir alianças. No sistema presidencialista como o francês, onde o chefe de Estado concentra mais poderes do que qualquer outro governante ocidental, a situação está a tornar-se explosiva.
Editor-executivo