"Não cabemos todos". É a frase do momento em Espanha. Em momentos de crise, há sempre um imigrante ao virar da esquina.
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Os espanhóis viveram vários anos de prosperidade económica. Só que o seu desenvolvimento foi suportado pelo imobiliário. Ou seja, trabalho de construção civil em abundância e apropriado para pretos, índios, muçulmanos e portugueses. Veio a crise e a "bolha" rebentou. Deixou de haver emprego até para os espanhóis. Os pretos, índios, muçulmanos e portugueses já não fazem falta para acartar sacas de cimento e assentar tijolos. Resumindo, já "não cabemos todos", grita a líder dos conservadores na Catalunha. A questão dos portugueses foi fácil de resolver: 10 mil já regressaram ao lado de cá durante 2009. Para pretos, índios e muçulmanos anunciam-se tempos difíceis. Em Espanha como por toda a Europa. O ódio é uma praga que se propaga com rapidez.
2. Alguns portugueses já sabem que Manuel Alegre vai candidatar--se à Presidência da República. Mas são ainda mais os portugueses que sabem que o Bloco de Esquerda apoia o candidato Manuel Alegre à Presidência da República. Dirão alguns que os bloquistas agiram por convicção, outros que foi por oportunismo. Seja qual for a razão, a impressão que fica é que o Bloco se apropriou da candidatura. Vejamos cronologicamente os factos: Alegre anunciou a sua disponibilidade, em Portimão, sem espalhafato mediático. No fim-de-semana que se seguiu, Louçã entusiasmava-se no apoio e amplificava a candidatura. Alegre sentiu-se obrigado a esclarecer que não é o candidato do Bloco. Mas veio mais um fim-de--semana e Alegre deixou de ser o candidato oficioso para passar a ser o candidato oficial em mais uma liturgia bloquista. O que o Bloco está a fazer, nesta espécie de festa precoce, é encurralar Alegre. Desta vez, não chega angariar um milhão de votos de protesto. E não se vencem eleições sem conquistar uma parcela de eleitores moderados, o chamado "centrão". Se Alegre for visto como o candidato da esquerda radical, o "centrão" voltará a escolher Cavaco Silva. Num certo sentido, o apoio entusiasmado de Louçã e do Bloco pode ter garantido menos votos do que aqueles que afugentou.
3. Défice imparável, dívida pública insuportável, bancarrota no horizonte. Ameaças que ouvimos todos os dias, sobretudo agora, que se negoceia o Orçamento do Estado para 2010. Dizem-nos que é preciso apertar o cinto, perceber que o desemprego será ainda mais duro, aguentar o congelamento de salários, antecipar a subida das taxas de juro. Mas eis que, apesar do cerco da crise, chegam notícias de resistência. O chefe dos irredutíveis chama-se Faria de Oliveira e a aldeia gaulesa é a Caixa Geral de Depósitos. Que já injectou 4,2 mil milhões de euros no BPN. O gestor do banco público acredita que virá aí um mecenas que, de uma penada, vai comprar o BPN e devolver, a pronto, os 4,2 mil milhões de euros. Eu também acredito na história da carochinha.