Não deixem morrer o "Jornal do Norte"
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Não é excesso de linguagem, nem de dramatismo. As notícias das últimas semanas mostraram que existe um perigo real de vermos desaparecer o jornal onde se publicam estas palavras e o tema merece - ou deve merecer - a preocupação de todos os que defendem e representam os interesses do Porto e do Norte do país.
Há razões bastantes para não assistirmos placidamente a esta situação. A primeira e mais importante de todas é que o JN é o último bastião informativo de uma cidade e região que permitiram o desaparecimento de dois diários históricos, como foram “O Comércio do Porto” e “O Primeiro de Janeiro”. Mas que também viram ser colocada seriamente em causa, por exemplo, a manutenção do Centro de Produção da RTP Porto, no início dos anos 2000. A questão, portanto, não é de todo uma novidade, mas não deixa de ser assustadora e inaceitável a possibilidade de vermos as causas políticas, sociais e económicas da região totalmente eclipsadas da agenda mediática nacional, transformando o setor da Comunicação Social num eixo unidirecional, com diretório a partir de Lisboa.
Por outro lado, a agonia que vemos no JN é mais uma demonstração de que vivemos num país profundamente desequilibrado e centralista, onde poucos projetos empresariais - mesmo os mais bem-sucedidos - sobrevivem ao afastamento dos corredores do poder ou escapam à descapitalização dos seus melhores recursos e know-how. Estarmos perante o pináculo da macrocefalia lisboeta, num setor tão fundamental como são os média, é uma péssima notícia para a coesão territorial e um enorme retrocesso que nos deve fazer refletir seriamente sobre o modelo de governação que queremos para o país.
O repto que se lança às forças vivas do Porto e Norte é que unam esforços para salvaguardar este derradeiro reduto de liberdade, influência e poder mediático que constitui o nosso JN, uma marca com 135 anos de história. A resignação de hoje pode custar demasiado caro amanhã e podemos todos lamentar, tarde demais, esta passividade coletiva.