O comunicado do ministro diz tudo. Este e todos os outros. A questão do novo aeroporto de Lisboa pretende resolver o problema da expansão da capacidade aeroportuária da região de Lisboa. E, portanto, não vem ao caso qualquer outra localização que não fique dentro de portas. Nem que esteja a poucos mais km ou que, mais importante, pudesse representar um salto estruturante no desenvolvimento mais equilibrado e mais justo deste país.
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As hipóteses de Beja ou Monte Real, ainda que de facto pudessem ser as tais alternativas viáveis e com claro valor acrescentado, passam assim a ideias excêntricas de quem aborrecidamente insiste em olhar o país como um todo com iguais direitos.
Mas pior do que isto é agir como se, sendo um problema de Lisboa e para Lisboa, ninguém fora da corte tivesse realmente nada a ver com o assunto.
Ou seja, que ninguém tivesse nada que ver com as razões pelas quais se embarca neste megainvestimento. Apenas uns números redondos sobre a alegada saturação de capacidade sem que, por exemplo, sobre esses números incida qualquer impacto da evolução tecnológica que o setor seguramente sofrerá nos próximos anos.
Que ninguém tivesse nada a ver com a forma como se selecionam as opções de localização e muito menos sobre a forma como se estudam. Ora isoladas ora aos pares. Ora porque o Governo diz que sim, ora porque a confederação da indústria portuguesa ou duas autarquias dizem que não.
Que, no meio do processo, o financiamento desta superestrutura passasse para as mãos de uma empresa privada que, naturalmente, vai querer sempre a hipótese mais rápida, mais barata e que mais depressa a ponha a ganhar dinheiro com as taxas aeroportuárias ou mesmo com as portagens de uma nova ponte porque se dá o caso de a mesma empresa ter o usufruto dos aeroportos e das pontes.
A empresa (ANA) foi criada e paga com os impostos de todos? A promoção harmoniosa de todo o território nacional é um imperativo constitucional?
Mas que temos nós, na província, a ver com isto?
*Analista financeira