A vida mudou muito e isso será a marca mais profunda que este contexto pandémico deixará em nós por muito tempo. Estamos mais vulneráveis a tudo. Certamente que evoluímos no conhecimento e na reação à covid-19, mas estaremos nós preparados para esta segunda onda?
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O inverno nem começou e já há hospitais com unidades de cuidados intensivos sem camas disponíveis e outros com uma ocupação destes serviços a dois terços da sua capacidade. Neste contexto, dispararam sinais amarelos em vários sítios, mas nem todos parecem preparados para o que aí vem. É certo que há planos de contingência, sinaléticas variadas e álcool-gel em todo o lado. Mas isso não chega. O Governo tem de continuar a ser célere nas decisões a favor da saúde pública, as diferentes instituições/organizações precisam de vozes de comando firmes e cada um de nós tem de tomar consciência de que é mesmo um agente de saúde pública. Eis o mais difícil.
Em conversas que vou mantendo em contextos diversos, tenho notado as pessoas mais descontraídas em relação à pandemia. Algumas aconselham-me a relaxar mais, como se o devir dos acontecimentos dependesse de uma entidade abstrata para além de nós. Em algumas organizações, vou constatando que os respetivos responsáveis estão completamente impreparados para reagir a qualquer cadeia de contágio que possa surgir. Didier Pittet, especialista suíço em doenças infeciosas chamado pelo presidente francês para analisar o que está a correr mal em França, tem repetido que as maiores faltas estão na antecipação, na preparação e na gestão da pandemia.
Esta semana a revista britânica "NewStatesman" enuncia as maiores lições da pandemia. Para além da incapacidade que a ciência tem em responder rapidamente a problemas globais, constata-se também que as diversas lideranças não conseguem responder com a eficácia desejada a este cataclismo. Subitamente percebemos que a desproteção é sistémica ao ponto de colocar seriamente a nossa vida em risco.
No que ao nosso país diz respeito, as próximas semanas serão duras. Esperamos do Governo decisões rápidas e bem ponderadas, da autoridade de saúde uma ação efetiva no terreno e um poder de comunicação centrado no essencial e das diversas organizações capacidade de antecipar e de gerir problemas. De cada um de nós, exige-se um comportamento responsável. Porque ninguém quer voltar a um confinamento nacional de consequências incalculáveis a vários níveis.
Professora Associada com Agregação da UMinho