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Ainda se lembra do som de arranque do Windows 95? Foi criado e produzido pelo músico Brian Eno para a Microsoft. São seis segundos de uma sequência etérea pensada para abrir janelas virtuais. Era o som do futuro à nossa frente. A melodia faz parte da história digital e recentemente passou a integrar o património cultural da National Recording Registry dos EUA.
Ora o compositor vai doar os lucros obtidos com o icónico toque de abertura do sistema operativo às vítimas da guerra em Gaza, após a tecnológica ter feito negócios com Israel. “Nunca pensei, trinta anos depois, que esta mesma empresa pudesse um dia estar envolvida em mecânicas de opressão e guerra”, lê-se na carta aberta “Não em meu nome” que o produtor publicou no seu perfil do Instagram onde tem 280 mil seguidores.
A posição do músico foi tomada após a Microsoft reconhecer que vendeu serviços de inteligência artificial e computação ao exército israelita. A empresa reagiu e diz que não tem forma de perceber de que maneira os clientes usam o seu software, nem provas de que o seu serviço foi usado para maltratar pessoas. Uma desresponsabilização elucidativa sobre o posicionamento das gigantes tecnológicas em conflitos armados.
O gesto de Brian Eno não mudará grande coisa, mas se ajudar a melhorar a vida de quase metade da população que vive em situação de fome extrema e os milhares de pessoas que precisam de cuidados médicos, já não é mau. Mais importante é que o som que foi criado para ligar computadores sirva agora para ligar consciências. Especialmente, numa época em que o silêncio institucional se torna cúmplice do terror. O som da guerra é demasiado audível para ser ignorado.