O tema dos jovens que não estudam nem trabalham saiu da agenda política, mas o fenómeno tem uma dimensão e uma gravidade que não podem ser ignoradas. São milhares os jovens, dos 16 aos 29, que não estudam nem trabalham. Segundo os dados do inquérito ao emprego conduzido pelo INE, poderão ser cerca de 160 mil, em 2025.
Estes jovens têm, no máximo, o Ensino Secundário, mas muitos ficaram-se pelo terceiro ciclo do Básico. São, portanto, jovens com baixas qualificações. Uma parte, cerca de 70 mil, estão inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), procurando novas oportunidades. Porém, a maioria já desistiu dessa procura, vivendo de trabalhos precários, intermitentes e informais.
São jovens que enfrentam várias dificuldades para quebrar o círculo de vulnerabilidade em que se encontram. A primeira é a da qualificação e das oportunidades para regressarem a formações que os habilitem a entrar no mercado de trabalho formal. O seu défice de competências profissionais estende-se à utilização da informática, ao domínio do inglês e à impossibilidade de obter carta de condução. A segunda dificuldade, tanto na procura de emprego como na de formação, sobretudo para as jovens mulheres, reside nas responsabilidades familiares que, entretanto, assumiram e à falta de apoios em, por exemplo, creches ou infantários.
Hoje, a agenda política para os jovens centra-se sobretudo nos problemas dos que já conseguiram alguma coisa. Há medidas para os que entraram no Ensino Superior que visam melhorar as suas condições de estudo e aprendizagem, de sucesso académico, para uma mais fácil entrada e permanência no mercado de trabalho formal. Outras medidas apoiam o acesso à habitação de jovens com empregos estáveis. Esta é uma agenda política importante. Os jovens mais qualificados, se tiverem êxito, podem dar contributos importantes para a modernização do país, da economia e da sociedade.
Mas e os outros jovens, sem qualificações, sem emprego e sem formação? Que país estamos a construir quando sabemos que metade dos nossos jovens não acabam o Ensino Secundário nem entram no Superior? Quando sabemos que não chegam a este patamar sobretudo porque têm amarras fortes a uma origem social que não os bafejou na lotaria do nascimento?
Nota: para saber mais sobre este tema, consulte o Observatório do Emprego Jovem, que promove estudos, análise de dados estatísticos e entrevistas para saber quem são, como vivem, que obstáculos enfrentam e que oportunidades ou medidas deviam ser criadas para os jovens (https://www.obsempregojovem.com).

