Aeroporta. Perder a competitividade do Aeroporto Francisco Sá Carneiro seria igual a fechar a última porta de saída da Região Norte (e Centro). Não temos outra. As estradas não resolvem o problema do turismo vindo de longe nem são uma solução para os contactos internacionais dos empresários. A ferrovia está cada vez mais abandonada. Portanto, ou há um aeroporto a funcionar bem, ou estamos condenados à pobreza e ao desemprego.
Corpo do artigo
Os números da porta: o aeroporto do Porto vai duplicar o número de passageiros em 10 anos. Em 2011 vai ultrapassar de novo os cinco milhões. As companhias low-cost são responsáveis por este crescimento e já representam mais de 60% do tráfego. E veja-se no que isto se traduz: 40% das pessoas que chegam ao Porto têm menos de 30 anos; 42% têm curso superior; 46% de todas as pessoas que nos visitam vêm por razões negócios/profissionais. São perfis praticamente idênticos aos dos visitantes até 2004 - antes da Ryanair e Easyjet -, com a vantagem de serem o dobro das pessoas. Ou seja, low-cost não é igual a visitantes de baixa instrução/rendimento.
As portagens. São mais uma porta a trilhar toda a gente. O preço dos camiões na Brisa ou nas Scut é brutal. Uma carrinha de classe 2 paga quase o dobro de um carro normal. Uma viagem Porto-Algarve torna mais competitivas as férias de avião para Espanha ou viagem Porto-Faro na Ryanair... Os Governos respeitam tanto a Brisa e as novas concessionárias que põem preços iguais para estradas desiguais, nivelando sempre o custo por cima. Portugal não pode pagar este custo de portagens. Toda a gente tem de cortar custos, ficar sem abonos, subsídios, mas as concessionárias monopolistas aumentam os preços todos os anos e o Estado não as obriga a cortes. Porquê? Este preço de portagens está a destruir a economia. Utilizador-pagador sim. Sequestro rodoviário não.
A porta do leitor. Daniel Fontes escrevia ontem, nas cartas ao director deste jornal, que as Scut são a nova D. Branca. E tem toda a razão. Acrescento a isto a Brisa. Porquê? O Governo anterior montou uma legislação milionária que atribui ao Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres a possibilidade de aplicar multas de 500 a 1000% por atrasos no pagamento de Scut ou portagens! Uma portagem de 24 euros transforma-se em 774 euros! Que se não for paga em 10 dias passa quase para o dobro a seguir! Depois de toda a confusão criada em volta do pagamento das Scut, isto é um jackpot... Para quem? Trata-se de um abuso de direito, claramente desproporcional face ao delito, e sem ponta de bom senso. Assim se vão enchendo os tribunais de processos porque, naturalmente, as pessoas não pagam multas onde não encontram razoabilidade. É uma legítima desobediência civil.
Abrir a porta à TSU? O Governo arrecada 800 milhões com cortes nos rendimentos no fim do ano... e depois dá um bónus de 1600 milhões às empresas? É incompreensível. (Declaração de interesses: dirijo uma empresa. Menos TSU beneficia-me. Mas é falso que diminuir a TSU seja essencial). Estamos a repetir o erro de sempre: salvar o presente, hipotecar o futuro. Quem vai responder pela Segurança Social daqui a meia dúzia de anos? Tenho a certeza que a troika aceita a ideia de que, afinal, o novo Governo não desce a TSU e poupa 1600 milhões a.
Uma porta de lixo. A classificação da Moody's sobre Portugal tem um efeito brutal: cola-nos à Grécia, o que tentávamos evitar. E dá mais um tiro na já baixíssima capacidade emocional para compreendermos se os sacrifícios valem a pena (e valem, porque sair do euro seria uma tragédia de dimensões apocalípticas). Por isso este momento é crítico. Deixamos os gregos e os irlandeses sozinhos a renegociar com a troika? Ou somos realistas e admitimos que são necessários mais anos para cumprir o plano? Já agora, aproveita-se e revêem-se as elevadas taxas de juro dos empréstimos da troika? Elas devoram toda a riqueza criada do país e contribuem ainda mais para a situação de risco em que estamos. Há males que vêm por bem. Não podemos morrer de uma cura apressada. Uma dívida de décadas não se endireita em três anos. Para a economia crescer, os portugueses têm de estar vivos. E, já agora, alimentados.