Não há cultura fora de Lisboa?
Podemos começar já por responder à pergunta que encima este texto. Sim, há. A programação cultural em Portugal está fortemente concentrada na capital, mas felizmente não se resume àquele pedaço do território.
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Mas ao olharmos para o mapa continental, cruzando-o com os apoios que a Direção-Geral das Artes concede às várias regiões, facilmente concluímos que o poder centrifugador de Lisboa, sentido em demasiados domínios da nossa vida coletiva, também está a fazer estragos nos palcos. É particularmente preocupante que as regiões Norte e Centro (até mais do que o Alentejo e o Algarve) liderem aquelas onde há menor densidade de atividade artística profissional, conforme refere o estudo do Observatório Português das Atividades Culturais. Há 76 municípios com menos de 12 espetáculos por ano. Ou seja, mais de um quarto do território nacional nem um espetáculo por mês consegue produzir. Minho, Tâmega e Sousa, Douro e Trás-os-Montes são as regiões menos bafejadas pela produção cultural. E, dentro destas, há depois as sub-regiões, onde esta ausência de produção e investimento é mais gritante.
É, por isso, meritória, ainda que incapaz de ser transformadora, a decisão do Ministério da Cultura de atribuir um milhão de euros a projetos culturais em zonas esquecidas que se desenvolvam com a participação das comunidades, estruturas, artistas e agentes socioculturais locais. Não apenas pelo simbolismo estratégico, mas em particular porque a cultura também deve ser encarada como uma forma de afirmação de uma comunidade.
Seja como for, muita da vida cultural que germina no Interior não bebe inspiração nas dádivas do Estado, mas na proatividade de agentes locais e de municípios que já não olham para as manifestações culturais com desdém. Numa fatia considerável do território não há ninguém para produzir espetáculos porque há cada vez menos gente para os ver. É uma cultura entranhada, a que a Cultura não escapa.
*Diretor-adjunto