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A mais condecorada ginasta de sempre está de volta. Mais forte, mais saudável, mais madura. Depois de dois anos retirada para cuidar da sua saúde mental, Simone Biles voltou à competição para provar que há vida, alegria e vitória, depois da descida às catacumbas da depressão e da ansiedade. Filha de mãe toxicodependente, passou fome e por famílias de acolhimento, sofreu abusos sexuais. Mas isso não a define. Simone não é uma vítima.
“Ganhei 25 medalhas em mundiais, sete em Olimpíadas, e sou uma sobrevivente de abuso sexual.” Foi assim que a desportista se apresentou, em setembro de 2021, perante o comité do Senado que investiga o falhanço do FBI na investigação do maior escândalo sexual desportivo dos EUA: Larry Nassar, médico da equipa de ginástica feminina que abusou de 300 atletas ao longo de duas décadas. Sempre a competir ao mais alto nível, com um sorriso aberto que se tornou na sua imagem de marca, Simone, 142 centímetros de pura fibra e talento, ganhava medalhas atrás de medalhas, superando-se em cada salto, em cada pirueta, em cada rotina arrebatadora.
Foi, por isso, um choque de dimensão global quando nos pós-pandémicos Jogos Olímpicos de Tóquio desistiu de várias provas por não se sentir bem e para dar prioridade à sua saúde mental. Mais tarde, explicaria que sofria de “twisties”, um bloqueio mental em que os ginastas perdem a noção de espaço no ar. Deixou de ter confiança em si própria, pôs tudo em causa e em pausa. Deixou os treinos de ginástica e entregou-se com o mesmo foco à terapia. Só esta primavera se permitiu voltar à trave e este fim de semana regressou à competição, no US Classic, em Illinois. Voltar aos 26 anos, depois de enfrentar os seus demónios, já seria uma vitória. Mas Simone não só competiu, como venceu. “Tudo se encaixou no seu devido lugar. Sinto-me muito bem, mental e fisicamente, onde estou agora.”
Numa era de influencers balofos, a jornada da ginasta é uma verdadeira inspiração porque é feita de uma massa cada vez mais rara, autenticidade e perseverança. Ainda não se sabe se pretende ir às Olimpíadas de Paris. A idade e a paragem de dois anos são obstáculos. Mas, tratando-se de Simone, não há impossíveis.