Não havia mesmo necessidade
Corpo do artigo
A “precipitação” e a “irracionalidade” que invoquei neste espaço, no dia em que a moção de confiança foi rejeitada, confirmaram-se. O país não queria mesmo voltar a eleições e deixou uma mensagem clara de apelo à estabilidade, premiando o partido que está no Governo.
Pedro Nuno Santos saiu como grande derrotado deste processo. Não só avaliou mal o risco que representava para o PS forçar eleições antecipadas – após oito anos no poder e uma maioria absoluta desperdiçada – como foi incapaz de mobilizar o eleitorado em torno de uma proposta ou causa política forte. Deixa a liderança pela porta pequena e com uma indisfarçável pressa em sair, entregando o partido em mínimos históricos, dos quais levará tempo a recuperar.
A esquerda radical teve um resultado igualmente desastroso, confirmando que as sequelas da geringonça de António Costa ainda não estavam totalmente à vista. O Bloco foi a expressão maior desta hecatombe e nem o regresso das suas relíquias políticas salvou a imagem de um partido afundado em contradições, circunscrito às grandes regiões urbanas e irrelevante na expressão popular. Em cinco anos, passou de 19 deputados a um monolugar no Parlamento.
No polo oposto, ficou André Ventura, com mais um retumbante sucesso eleitoral, a confirmar o seu partido como a força política que, de longe, mais cresce em Portugal. As causas para este resultado são diversas e pouco ancoradas na dicotomia Esquerda vs. Direita. O Chega apela a franjas eleitorais muito amplas, desde o voto de protesto básico, ao cidadão mais conservador que clama por segurança e justiça social. Ao falar a voz do povo, distingue-se dos adversários e colhe apoios transversais. Não foi por acaso que os 49 concelhos que conquistou nestas legislativas foram todos retirados ao PS.
Os resultados mostram também um divórcio flagrante entre os meios de Comunicação Social e o cidadão comum. Enquanto os primeiros estiveram semanas a fazer mira a um caso de pura avaliação ética, as pessoas só queriam seguir com a sua vida e votaram em conformidade. A conclusão óbvia do triunfo da AD é que não havia necessidade desta crise política. Aqui chegados, só resta esperar que o bom senso impere nos partidos e que deixem – não apenas “o Luís” – mas todo o país trabalhar.