Não sabemos como vai ser o verão. Sabemos é que se não estivermos preparados e não apoiarmos o setor, este será um ano mais dramático para o turismo do que já foi 2020.
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Os números não são tudo, mas permitem tirar conclusões. Utilizando os fundos de recuperação europeia, a Espanha vai apoiar o turismo com mais de 10 mil milhões de euros. A Itália tomou opção idêntica e investirá 8 mil milhões no setor. Portugal e o seu plano de resiliência dedicam ao conjunto da economia 1,2 mil milhões. Para todas as empresas e sem qualquer programa dedicado ao turismo. Sendo verdade que a nossa dimensão de país é diferente, o certo é que Itália tem uma dívida maior do que a nossa e que o défice de Espanha é superior ao português.
Em qualquer dos casos, mas especialmente no português, que é o que aqui interessa, o turismo é vital para a produção, para as exportações e para o emprego. Em algumas regiões, como o Algarve, trata-se mesmo da principal atividade económica. Perante uma "bazuca" que aposta sobretudo no Estado e reserva menos de um décimo dos 14 mil milhões de dotação às empresas e que é omissa quanto a medidas concretas nas áreas do turismo, da hotelaria e do lazer, podemos antever um cenário muito grave. Se a par disso, Portugal não gerar condições de confiança à escala internacional - como estão a fazer, desde já e junto dos mercados emissores, espanhóis, italianos e gregos -, que levem a que os turistas sintam vontade e segurança para marcar férias no nosso país, então o quadro é trágico. Até porque o verão é sempre de junho a setembro, não dá para adiar.
Acresce uma ausência de critério estável e de plano conhecido no apoio a eventos capazes de captar público estrangeiro. Para além da Fórmula 1 e do MotoGP, fundamentais para o Algarve, e da milionária Web Summit, não se conhece um investimento de Lisboa para cima. Mesmo os apoios ao Rali de Portugal, no Centro e no Norte, não estão ainda fechados. Tanto ou mais do que o Natal, não podemos perder o verão deste ano. E verão não é só no Sul. É também Porto, Douro, Minho, ilhas, Alentejo ou Beiras.
*Empresário e Pres. Ass. Comercial do Porto