Uma jovem adolescente empunha o seu smartphone e mostra o saldo da conta bancária. Tem 280 mil euros. Ri-se. Orgulha-se de receber 30 mil por mês pela venda de fotos dos seus pés. É utilizadora do OnlyFans, uma rede social que permite aos criadores de conteúdos cobrar uma assinatura mensal para que outros utilizadores os possam seguir e comprar o que eles tiverem para vender. E vendem. Sobretudo "nudes". A jovem orgulha-se do seu empreendedorismo. Partilha o vídeo. Atinge milhares de visualizações no TikTok. É fácil perceber o que acontece a seguir. O que vai na cabeça de tantos e tantos jovens que o visualizaram.
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O OnlyFans não é uma plataforma pornográfica. Mas transformou-se nisso, mesmo que, em 2021, tenha tentado desligar-se de publicações com conteúdo sexualmente explícito. Problema: não era rentável. Recuou. É, portanto, um espaço sujeito ao roubo de identidades, fotografias, vídeos. Os legisladores encolhem os ombros. As famílias também. Nas escolas não se fala no assunto.
Esta semana, um jovem português roubou uma fotografia de um site brasileiro. A imagem mostra um rosto tapado. Ao lado, armas. Publicou-a no TikTok, acompanhada de ameaças de ataques a escolas, assinalando o massacre de Columbine.
O alarido foi viral. Houve pais a entrar em pânico. A discussão correu no WhatsApp. Partilharam-se certezas e tomaram-se decisões sem qualquer critério. Mas o que estes encarregados de educação não viram foram os conteúdos que provavelmente se seguiram à imagem do rosto coberto, ao lado de armas, difundida pelo jovem. O algoritmo do TikTok é dos mais sofisticados. Se vemos um vídeo de bananas, a seguir vamos ver imensos vídeos de fruta.
Após a polémica relacionada com alegada espionagem chinesa, o TikTok prometeu mundos e fundos para melhorar a segurança dos seus utilizadores. Desta vez, este caso em Portugal não passou de uma brincadeira de mau gosto. A Polícia identificou os autores e fez o serviço que a rede não fez. Quanto a governos e legisladores, não adianta fazer scroll que não os vamos encontrar. Continuam a fazer de conta.
*Diretor-adjunto