Há promessas políticas muito convenientes. Sobretudo se forem feitas no tempo certo. E no que diz respeito às creches gratuitas para todas as crianças, António Costa geriu com distinção o tempo e o modo.
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A primeira vez foi no Congresso do PS, no final de agosto do ano passado, já de olhos postos nas negociações à Esquerda. Prometeu mais dez mil lugares em creches. Próximo do final de outubro, quando tentava ainda evitar o chumbo do Orçamento do Estado, as tropas socialistas reunidas em Comissão Política Nacional ajustaram o tiro e prometeram creches gratuitas para todos, no primeiro ano de vida, a partir de setembro deste ano; no ano seguinte, em setembro 2023, para o primeiro e segundo ano; e a partir de 2024, para o terceiro ano. "Em três anos, teremos a total gratuitidade da frequência das creches", anunciava António Costa. Já sabemos o que aconteceu. O Orçamento chumbou, o presidente da República dissolveu o Parlamento, marcaram-se eleições antecipadas. E em janeiro, mês de eleições, foi publicada a lei que garantia essa gratuitidade (aprovada por unanimidade na Assembleia da República, que em tempo de campanha eleitoral as promessas são grátis).
Há promessas políticas muito convenientes, mas depois não são concretizadas no tempo certo (ler página 6). É o que está a acontecer com as creches gratuitas para todas as crianças. Estamos em finais de maio. As instituições que gerem creches têm todos os dias pais que lhes batem à porta à procura de uma vaga para o seu bebé. E já agora saber se pagam e quanto pagam. Ninguém sabe. Os gestores destas instituições, aflitos, perguntam à Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) o que fazer. Ninguém sabe. Porque o Ministério da Segurança Social nada esclarece. Ficam os pais sem saber se há vaga e se têm de pagar. E ficam as IPSS sem saber como vão gerir as creches, como vão pagar os salários, ou qual o valor da comparticipação do Estado. Pergunta: não se arranjam umas eleições para daqui a 15 dias? Aposto que todas as dúvidas seriam esclarecidas de imediato.
*Diretor-adjunto