A partir de amanhã, teremos um novo Poder Local, ao qual se pede que seja solidário com os problemas do país e os tente resolver em articulação com o Poder Central, mas também que não se deixe nacionalizar, por assim dizer, sob pena de não ser capaz de cumprir com a sua primeira função, que é a de tentar resolver pela proximidade aos cidadãos aquilo que de longínquos e alcatifados gabinetes não se consegue percecionar.
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Esgotados os ciclos daquilo que podemos designar como o desenvolvimentismo do Poder Local em áreas tão cruciais como o abastecimento de água, saneamento básico, escolas básicas e secundárias, centros de saúde e outras infraestruturas em setores vitais como o cultural ou o desportivo, os novos autarcas vão ter de dirigir os seus programas e esforços para o combate ao flagelo do desemprego [um desígnio nacional a requerer toda a solidariedade], sem deixar de olhar para novas oportunidades de emprego que o território ofereça de forma diferenciada e, por isso mesmo, insubstituível [um desígnio local que deve merecer o apoio sem reticências do Poder Central].
Mas como de boas intenções está o Inferno cheio, não alimentemos dúvidas sobre o modo mais eficaz de patrocinar uma boa articulação entre o Poder Local e o Poder Central. Diz-nos inequivocamente a história do Poder Local em regime democrático que isso se consegue mais e melhor combatendo sem tréguas um certo modo de Poder Local incapaz de adotar posições decididamente integradoras de políticas ativas que vão para além das fronteiras de cada município.
Os tempos em que os dinheiros europeus corriam com facilidade pelo país facilitaram esse tipo de municipalismo paroquial, por assim dizer. Dinheiros esses que, associados à facilidade em cobrar taxas, sobretudo no setor imobiliário, somaram umbigos e subtraíram possibilidades que deveriam ter ajudado a revitalizar e porventura reformar o tecido empresarial, pelo menos aquela parte que respeita ao aproveitamento de potencialidades próprias e diferenciadoras do território.
Para o novo Poder Local - que terá de acorrer às premências de um estado de emergência social ainda sem fim à vista -, o grande desafio é resistir aos apelos da caridadezinha que o Poder Central pode usar como expediente para tapar a boca a reivindicações cuja dimensão social e territorial deveriam ser inegociáveis e não podem acabar pela pequena benesse a troco da traiçãozinha municipal ao bem comum e maior de projetos regionais.
Sabendo-se que muito do dinheiro do novo Quadro Comunitário de Apoio terá de ser dirigido às empresas para reanimar a economia, o novo Poder Local vai ter de gerir melhor com menos dinheiro. E a melhor forma de consegui-lo é na dimensão supramunicipal.