Já não se pode ir de férias! Regressa-se e quando se vai ao banco dizem-lhe que acabou. Não é bem assim, há um banco novo. Conhecidas as circunstâncias percebe-se que, numa terra de brandos costumes e muitos compadrios, talvez só alguém que fez grande parte da sua carreira fora de Portugal tivesse a coragem de tomar a decisão de resolver (é a palavra que se ouve usar e que parece certa já que tanto dá para dissolver como para solucionar - oxalá!) o maior banco privado. Como não podia deixar de ser, há sempre um cobói, do género "se fosse eu", que o ataca, a ponto de parecer que foi Carlos Costa quem cometeu todo o género de ilegalidades. Postos os pontos nos ii, revejo-me nos que se interrogam se teria sido mesmo preciso acabar com a marca BES, ao fim e ao cabo, um símbolo daquilo que Carlos Rodrigues, presidente do Banco BIG, designa, numa entrevista ao "Expresso", por um "grande banco, usado por um sector empresarial muito grande, com que tinha uma capacidade de penetração e de manutenção de relações duradoiras altíssimas". Talvez, na urgência de querer separar as águas, se tenha confundido a dimensão jurídica com a empresarial, com primeira a sobrepor-se à segunda. Talvez se a marca fosse salvaguardada - e a Dona Inércia podia ter dado uma ajuda: para quê mudar? - não fosse necessário andar, agora, com todas estas campanhas de mudança de marca, de cor e de decoração, tanto mais difíceis de compreender quanto se acentua a urgência de vender depressa o Novo Banco. A não ser que se imponha uma condição de manutenção do nome, a racionalidade das despesas não é evidente. Estas são, contudo, preocupações menores quando comparadas com as que ecoam, nos meios empresariais, sobre a continuidade do papel único que o BES tinha no financiamento às empresas (veja-se o que Carlos Rodrigues diz!), em particular às PME. Haveria excessos, talvez a raiar a imprudência, com um rácio de transformação de depósitos em crédito muito alto. A nova administração tem que conhecer os cantos à casa, o que não acontece de um dia para o outro. Certamente, algo vai mudar. Um mês é pouco tempo. É uma situação a seguir com atenção mas que não justifica, para já, as visões catastrofistas que alguns apregoam.
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Para desanuviar, resolvi ver a versão 2014 do F. C. Porto a jogar com o Moreirense. Sabia que havia muitas alterações e que os resultados eram bons. A primeira parte fez-me lembrar o ano passado com o Licá a ter a mesma inconsequência de sempre. "Licá? Estás mesmo a precisar de ir ao oftalmologista! É o Adrian López". "O que custou uma pipa de massa, como diria o Durão Barroso?". Isso mesmo! Vai ter de trabalhar muito mais para justificar o preço. Se o que é nacional, só por o ser, não é bom, o mesmo se aplica ao que é estrangeiro. Parece óbvio, não é? No entanto, a julgar pelo que diz o "Dinheiro Vivo", a argumentação da FCC na privatização da EGF não é muito diferente: a proposta é boa e o dinheiro vem de fora - como têm uma dívida elevada, a nossa vitória poupa a (vossa) banca nacional (admitindo que esta existe, diria eu). Descaramento? Nada disso. Se o interlocutor, neste caso o Governo, não tem outra lógica que não seja a contabilística, fala-se a linguagem que ele entende.
Nos últimos anos, os grandes bancos nacionais, com excepção da Caixa, passaram para a mão de investidores estrangeiros. O mesmo aconteceu com a EDP, PT, Cimpor, a ANA e está a suceder com os seguros e os hospitais. Em tempos, as reprivatizações alimentaram a ilusão da reconstituição de grupos económicos nacionais que serviram para reforçar a centralização do Estado e dela se serviram. A crise de dívida (soberana e privada) veio pôr a nu que se tratava de gémeos siameses. É, nestas alturas, que mais falta faz uma estratégia, chamem-lhe política industrial ou outra coisa qualquer. A alternativa é ir vendendo o que resta aos estrangeiros para não pormos pressão na banca nacional, e voltarmos, enquanto país, a trabalhar por encomenda. É nisso que somos bons. Preciso de férias!
Declaração de interesses: sou amigo de Carlos Costa e integro o CFiscal da Mota-Engil que concorre com a FCC.