Num tempo em que a opinião se democratizou através das redes sociais, em que ideias racistas e xenófobas se espalham como ervas daninhas, há quem pense que se resolve o problema censurando.
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Como se fosse possível fazer a intolerância desaparecer, proibindo os intolerantes de escrever e falar. A evidência de que existe racismo em Portugal está na facilidade com que ele se revela, não na retórica, mas nos comportamentos.
Em pré-campanha eleitoral, há uma urgência nos partidos de fazer propostas legislativas sobre tudo e o PS avançou com a ideia de discriminar positivamente negros e ciganos, criando quotas nas listas para o Parlamento ou vagas nas universidades. Acontece que as ideias quando são apresentadas são para serem discutidas e não aceites sem crítica. No caso das quotas há bons argumentos a favor e contra, mas o que não faz sentido é discuti-las com base no grupo ou comunidade a que se destinam. A existência de quotas, seja pela igualdade de género, seja pela igualdade étnico-racial, é uma tentativa de integrar por decreto e isso é sempre discutível, mas reduzir a discussão generalizando comportamentos de comunidades é regressar ao nível dos machistas que achavam, alguns ainda acham, que o lugar das mulheres é em casa. Para que as mulheres pudessem viver em igualdade de direitos com os homens - um caminho que não está percorrido -, foi preciso, continua a ser preciso, discutir o assunto para derrotar os argumentos machistas.
Sim, há muita gente a pensar que um negro nascido em Lisboa é um africano e que um cigano é um apátrida. Há demasiados portugueses a terem receio de outros portugueses, pelo facto de não compreenderem a sua forma de estar na vida. Deixem-nos falar. Aproveitemos para ir ao encontro deles, explicando-lhes que quando a integração falha, falhamos todos. Os que não favorecem a integração e os que não se conseguem integrar são duas faces da mesma moeda. Faz-me uma grande confusão que, deste lado, haja tanta gente a enterrar a cabeça na areia. Devem viver com os mesmos receios. Não terão vencido os seus próprios preconceitos, apenas os amarraram a uma ideia de tolerância que fica sempre a meio caminho. Os do politicamente correto devem ter medo que lhes acordem os fantasmas. Por isso, querem os Bonifácios sempre calados, mesmo quando eles, também a meio caminho, têm um discurso racista, mas não defendem políticas racistas. Para que eles não pensem em dar o passo que falta, temos de estar alerta e falar com eles.
Jornalista