Ao contrário do que muita gente pensa, a razão pela qual ainda há um clima de concorrência nas viagens de avião chama-se TAP e não apenas low-cost. É verdade que, ao princípio, as viagens da Ryanair, e depois da Easyjet, revolucionaram o mercado nacional e alteraram completamente o nível da oferta de frequências e preços. Mas onde isso já vai. Hoje a história já não é essa.
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A chegada das low-cost foi boa sobretudo no Porto onde a TAP não tem, de há muito, uma estratégia de arriscar novos destinos, preferindo sistematicamente encher aviões em Lisboa. A prova disso são as ligações entre Porto e Lisboa estarem frequentemente cheias e muitas vezes caras.
Esta realidade mudou um pouco nos últimos anos. Há mais cidades ligadas a Portugal através das low-cost e o seu efeito é muito bom para trazer turistas - uma das poucas coisas que corre realmente bem na economia portuguesa. Mas quer os horários quer as frequências são pensadas sobretudo nessa lógica- de lá para cá. Resultado: para quem vai trabalhar ou fazer negócios, voos que chegam ao destino à noite ou que só existem no verão não resolvem problema nenhum, são perda de dias de trabalho permanente.
Eé por isso que é preciso ter alguma calma ao criticar-se ferozmente a TAP e os seus infindáveis atrasos e avarias. É como se a transportadora aérea, até nisso, fosse a imagem do país: tenta maximizar a operação para limitar prejuízos, com uma equipa relativamente pequena e aviões no limite do número de horas para fazer face a uma procura que é uma oportunidade sazonal.
Qualquer leitor pode fazer o teste: tente marcar uma viagem de uma semana para a outra, ou mesmo com três semanas de antecedência, para destinos iguais, e diga se no fim, malas e extras somados, não chega a preços idênticos (ou às vezes, até piores, nas low-cost)? E nos voos das alturas críticas - como o Natal, por exemplo? Quase sempre ir na TAP é mais barato ou compensa nos horários.
A privatização da TAP terá a consequência idêntica à da privatização dos aeroportos: deixa-nos nas mãos de interesses e economias de grande escala que não coincidirão necessariamente com os nossos. A sistemática subida de taxas nos aeroportos de Lisboa (sete (!) desde a privatização) e também no Porto e em Faro, são já o exemplo do que foi a entrega à francesa Vinci de todos os aeroportos nacionais sem concorrência.
E, na verdade, Badajoz não é alternativa a Lisboa, nem Sevilha a Faro (mas talvez Vigo possa ser face ao Porto). Portanto, quem quer cá vier, está a pagar as cada vez mais astronómicas taxas aeroportuárias cobradas pelos esmifradores de aeroportos. Basta ver nos sites das companhias aéreas como o custo das taxas é quase sempre superior ao preço do bilhete de avião propriamente dito para se perceber quem anda de boa saúde financeira neste negócio.
Tudo somado e, em coerência, faz sentido manter a TAP nas mãos do Estado ainda que ela possa, para já, ter algum prejuízo. Mas o turismo e a economia ganham com a existência de concorrência nacional. Haverá certamente alguns erros na gestão de Fernando Pinto, mas a companhia tem demonstrado uma resistência a tantos problemas que vale a pena continuar a apoiar este esforço. E se há região que tem algumas razões de queixa é a do Norte. A TAP ainda não parece ter percebido (ou não conseguiu responder) ao que se passa na enorme dinâmica internacional que as exportações trouxeram nos últimos anos. Não houve um incremento de rotas para ligar melhor o Porto aos grandes "hubs" internacionais como Frankfurt, Londres (Heathrow), Istambul ou São Paulo, nem a cidades em franca expansão como Berlim, Manchester ou Estrasburgo.
Infelizmente, ou não, a internacionalização ou a emigração são as grandes alternativas de sobrevivência para quem vive numa região (ou até país) em recessão. Portanto, apesar de tudo, Deus guarde a TAP para que as low-cost não façam de nós o que quiserem. E, já agora, que as low-cost se mantenham para que a TAP não volte ao que já foi.