Porque foi importante que Volodymyr Zelensky tenha participado numa sessão solene da Assembleia da República? As razões são simples.
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A mais importante prende-se com os povos, com as pessoas. Com a vida. Menos com a política. Os portugueses mobilizaram-se rapidamente para salvar quem fugia dos mísseis de Putin. De Norte a Sul. A sociedade civil foi mais prática que a demagogia do empata tempo. Viu, e continua a ver, aquilo que o presidente ucraniano denunciou ontem. Mais uma vez. Que o faça as vezes que forem precisas. No Parlamento português e nos outros. O povo queria ouvir Zelensky.
As palavras não foram apenas palavras. "Campos de concentração", "violações", "tortura", "corpos sepultados no meio das habitações", "matar por diversão", "escolas, universidades e igrejas destruídas". A maior parte dos termos não se referiam aos mais de 50 dias de guerra. Aludiam a ontem. A mais um dia de terror. Inferno.
A outra razão é muito menos importante, mas não menos grave. O presidente da Ucrânia não possui uma longa ficha criminal que inclui discriminação racial, ofensas corporais, posse de armas ilegais, difamação, sequestro e extorsão. Nem foi suspeito de nenhum homicídio. Estas particularidades são atribuídas a Mário Machado. Estão na Wikipédia. E sendo esta uma enciclopédia livre, António Filipe pode até tentar alterar o conteúdo de forma a melhorar a sua tese ridícula. É que, quando todos achávamos que não eram precisas mais explicações do PCP sobre a oposição do partido à presença de Zelensky, eis que o histórico militante comunista fez uma comparação absurda. "Talvez alguém convide amanhã o Mário Machado para estar presente nas galerias. Os amigos são para as ocasiões", escreveu.
Zelensky terminou a sua intervenção a pedir que Portugal ajude a Ucrânia a obter o estatuto de candidato à UE. Augusto Santos Silva prometeu que o "dossiê" será "bem examinado". Até lá, que os valores políticos nunca se sobreponham ao valor da vida. Porque por cada pessoa que morre com esta guerra, é um argumento político que morre com ela.
*Diretor-adjunto