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Aconteceu-me há uns tempos, durante uma ida de urgência ao supermercado. Num dos braços, segurava a minha bebé, que chorava sem parar, indiferente aos meus talentosos apelos para que se acalmasse. No outro, todas as compras que consegui agarrar e segurar em equilíbrio precário. Estávamos na fila da caixa prioritária, onde ninguém se ofereceu para me deixar passar e eu, para não melindrar ninguém, aguardava a minha vez. A funcionária acabou por fazer o que devia: deixou-me passar à frente dos outros, nenhum deles com razões sequer para estar naquela fila. O que se seguiu foi o que se pode adivinhar. Reclamações, olhares reprovadores, gente que se queixou como se eu lhes tivesse arruinado a vida para sempre. Não faltam por aí desses portugueses, os que não dão a vez em elevadores prioritários, que estacionam nos lugares para deficientes, que deixam o carro a tarde toda no sítio dos dez minutos no IKEA, que param o trânsito porque não querem andar uns metros, ou que não apanham a porcaria dos cães. São muitos, esses, de educação cívica nula, que exigem tudo dos outros sem nunca ceder nada à comunidade. Tenho pena deles e é pena que em Portugal ainda sejam tolerados. Não gostamos que o Mundo civilizado nos ensine nada. Os portugueses não se enxergam nem se deixam enxergar.
*JORNALISTA