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Conheço poucas pessoas que gostem tanto da vida quanto Daniel Serrão. Atropelado há uns meses, num acidente estúpido, resultante da incivilidade e falta de respeito pelos outros, esteve entre a vida e a morte. Talvez esse amor à vida e a fé o tenham ajudado a sobreviver. Lenta mas seguramente, tem vindo a recuperar. Tenho a certeza de que, se pudesse, se teria juntado ao coro sénior da Fundação Manuel António da Mota na celebração da vida, versão António Variações. Quero é viver! Diz a canção:
Vou viver /até quando eu não sei /que me importa o que serei /quero é viver
Amanhã, espero sempre um amanhã /e acredito que será /mais um prazer /e a vida é sempre uma curiosidade /que me desperta com a idade /interessa-me o que está para vir /a vida em mim é sempre uma certeza /que nasce da minha riqueza /do meu prazer em descobrir.
Ouvir estes versos, repetidos uma e outra vez, por um conjunto de cidadãos, ditos seniores, que põem na sua interpretação uma alegria juvenil de viver, faz-nos sorrir, sensibiliza, motiva. O momento ocorreu na gala anual da Fundação MAM (de Manuel António da Mota e Maria Amélia da Mota, como gosta de sublinhar o filho, António Mota), no ano em que se premiavam instituições que actuam no domínio da valorização, defesa e apoio à família. Ganhou o Movimento Defesa da Vida com um projecto de acompanhamento de famílias com crianças e jovens em risco, numa lógica de proximidade, potenciando a colaboração e a participação activa da família na resolução desses mesmos problemas, promovendo um horizonte de esperança que dê sentido à (sua) vida.
Ainda na música, talvez a mais marcante celebração da vida se encontre nos versos de Violeta Parra e celebrizados por Joan Baez, No original que, acredito, todos entendem:
Gracias a la vida, que me ha dado tanto / Me dió dos luceros que cuando los abro / Perfecto distingo lo negro del blanco /Y en alto cielo su fondo estrelado /Y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto / Me ha dado el oído que en todo su ancho /Graba noche y dia grillos y canarios /Martillos, turbinas, ladridos, chubazcos, /Y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida, que me ha dado tanto /Me ha dado el sonido y el abecedário /Con él las palabras que pienso y declaro / Madre, amigo, hermano y luz alumbrando / La ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida, que me ha dado tanto / Me ha dado la marcha de mis pies cansados /Con elos anduve ciudades y charcos /Playas y desiertos, montanias y llanos /Y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida, que me ha dado tanto / Me dió el corazón que agita su marco /Cuando miro el fruto del cerebro humano /Cuando miro el bueno tan lejos del malo /Cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida, que me ha dado tanto / Me ha dado la risa y me ha dado el llanto /Así yo distingo dicha de quebranto / Los dos materiales que forman mi canto /Y el canto de ustedes que es el mismo canto / Y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida... gracias a la vida
Não é a típica canção de Natal mas é melhor, e mais apropriada, do que quase todas as canções de Natal. Celebra a vida. Vai contra a lamúria instalada. Como dizia Robin Williams, no Clube dos Poetas Mortos: "Carpe diem! Aproveitem o dia, façam as vossas vidas extraordinárias". Dia após dia. Afinal, como dizia Ary dos Santos, Natal é quando um Homem quiser.