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Os nativos digitais começam a sentir atração por atividades em que a presença das tecnologias seja reduzida. Aqueles que nasceram e cresceram num ambiente digital e que, por isso, têm dificuldade em imaginar um mundo sem telemóvel, sem videojogos, sem Internet ou redes sociais, querem experimentar esse mundo, nem que seja por uns dias.
Esta é uma razão que explica a adesão que se tem verificado entre os alunos do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) a uma proposta da respetiva capelania para passarem um fim de semana sem telemóvel e desconectados das redes sociais: o "Offline Weekend". Já é a segunda edição, em poucos meses, com as inscrições de ambas a ultrapassarem a meia centena.
Os estudantes referem outras motivações para se inscreverem nesta atividade. Começam a perceber que se sentem viciados e que precisam de um tempo de desintoxicação. Estas tecnologias, que prometiam aproximar as pessoas, têm afinal provocado maior isolamento e dificultado a interação social.
Quando as tecnologias são silenciadas, então os estudantes podem escutar-se melhor e aceder à sua interioridade. Verificam como é gratificante conversar e conviver com os outros. Como é tão ou mais divertido jogar cartas ou jogos de tabuleiro, adivinhar charadas ou desafios de palavras.
É certo que uma centena num universo de dez mil alunos do IPB é pouco. Contudo, são um sinal de que há nativos do digital que estão abertos a explorar outros mundos. Destes foram selecionados apenas trinta para participar no "Offline Weekend" anterior. Todos saíram dinamizados para desafiar amigos e familiares a experimentarem um dia sem telemóvel. Alguns já promoveram iniciativas offline entre eles.
Os nativos digitais estão, assim, a converterem-se em "offliners". Esperemos que não fundamentalistas, pois a digitalização tem imensas virtualidades.