Se o opositor de Vladimir Putin não fosse russo ou pertencesse a uma das minorias que exercem enorme influência política e social e motivam a opinião pública para grandes debates nos média e nas redes sociais, talvez a sua sorte fosse outra. Mas Alexei Navalny não é fofinho e está a morrer.
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Vladimir Putin não conseguiu assassinar o seu principal inimigo interno à primeira tentativa, mas ainda não desistiu de o fazer. O documentário sobre a vida e sobre o envenenamento do ativista revela o pior da política russa, os métodos do regime para silenciar os opositores, mas sobretudo a crueldade humana. Revela também que a mobilização virtual, quer seja nas redes sociais quer seja no YouTube, não é suficiente para as grandes causas democráticas.
Alexei Navalny continua preso. Anteontem voltou para um calabouço de dois por três metros, após ter estado numa cela convencional. Nos últimos 15 dias, perdeu mais de oito quilos. Tem dores agudas de estômago e de costas. Tem tosse persistente. Ainda não teve assistência médica. Os seus advogados acreditam que lhe estão a administrar lentamente pequenas doses de veneno em comprimidos sem identificação. Estão a matá-lo. Lentamente. Sadicamente. Às escondidas.
Também neste caso, as sanções impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos de nada adiantaram. Nem adiantou o Prémio Sakharov, nem sequer a nomeação para Nobel da Paz.
Fala-se pouco de Alexei Navalny. Devia falar-se mais. Pela Rússia, mas também pela Ucrânia.
Quando regressou a Moscovo, o ativista político sabia bem qual seria o seu destino. Há poucos homens que arriscam a morte por uma causa de todos. Ele está a fazê-lo. Sem conseguir expressar-se publicamente, Navalny continua a falar para cada um de nós no seu silêncio forçado. É bom que o ouçamos.
*Diretor-adjunto