Corpo do artigo
O dia 4 de novembro é seguramente um dos mais negros da história do INEM. Mais de mil doentes ficaram sem reposta só nesse dia e há 11 mortes associadas à falta de socorro. A greve ao trabalho extraordinário dos técnicos de emergência pré-hospitalar destapou carências e falhas acumuladas há anos devido à incompetência dos sucessivos governos para resolver problemas estruturais num dos pilares do SNS. Ainda assim, é inaceitável que uma ministra da Saúde diga que “não estava à espera” de uma paralisação marcada com antecedência suficiente para ser evitada (20 dias). Se efetivamente não tinha conhecimento, é porque está mal assessorada e, em qualquer dos casos, é evidente que foi incapaz de prever e prevenir uma situação que se adivinhava gravíssima. Não antecipou e depois reagiu demasiado tarde, quando várias vidas já estavam perdidas.
O protesto começou no dia 30, coincidindo com um fim de semana prolongado, e na segunda-feira acumulou com a greve da Função Pública, uma confluência de fatores que resultou numa tempestade perfeita. Os centros de orientação de doentes urgentes (CODU) - cujo atendimento geralmente é assegurado por metade dos 80 profissionais necessários - colapsaram sem o trabalho extra dos técnicos de emergência. Na quarta-feira, com o caos mais do que instalado, são anunciadas medidas de contingência. E só na quinta-feira, dia 7, quando já se conheciam seis casos de doentes que morreram à espera de assistência, é que tutela e sindicato reúnem e assinaram um protocolo negocial e a greve foi desconvocada.
Agora que a situação caminha para a normalidade possível, é tempo de olhar com seriedade para os problemas de fundo do INEM. E isso passa indiscutivelmente por dar melhores condições de trabalho aos técnicos de emergência pré-hospitalar que, tal como outras classes profissionais da saúde, são mal remunerados (o salário bruto começa nos 922 euros) e penam em carreiras nada aliciantes. E não menos importante, é também tempo de apurar responsabilidades, que vão muito além do comportamento negligente de Ana Paula Martins em todo este processo.