As redes sociais andam em polvorosa com as investidas de Jaime Marcelo Martins Messias Mendes. Este desconhecido conta-nos na sua biografia, publicada na Internet, que nasceu na maternidade Alfredo da Costa, nos idos de 84, e que despertou para os animais muito cedo. Explica até, com uma ternura de pouco refinado recorte literário, que uma das coisas que o satisfaziam muito em criança era "simplesmente" ficar a ver os cavalos comer. Desses tempos até enveredar aos 14 anos por uma carreira tauromáquica foi um saltinho e, continua a contar-nos, foi uma decisão com um "significado indescritível".
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O pequeno Jaime cresceu e transformou-se num anónimo cavaleiro tauromáquico de nome artístico Marcelo Mendes. Anónimo até domingo passado, dia em que os seus 15 minutos de celebridade instantânea chegaram, não pela aclamação nas arenas, mas por uma lamentável lide que Marcelo ensaiou fora de tábuas e que uma câmara de vídeo registou. No exterior da praça improvisada na aveirense praia da Torreira, Marcelo lidou mal com os manifestantes que, em mais uma etapa de protestos itinerantes da associação Animal, se concentraram para se opor a mais uma tourada. Têm sido recorrentes este tipo de confrontações. As polícias, essas, parecem comparecer consoante a pressão mediática. E se ainda recentemente, em Viana do Castelo, se apresentaram em força evitando escaramuças graves, desta vez, na Torreira, a GNR pareceu incapaz de evitar que Marcelo Mendes e respetivo equídeo irrompessem pelos manifestantes. Um dia depois, Marcelo veio esclarecer que, afinal, o cavalo se assustou por ter sido atingido por uma pedra e que, depois, pretendeu "agarrar e identificar" (a cavalo, note-se) um homem que o terá injuriado. Marcelo parece não ter dado pela presença da GNR e, montado num dos animais da sua quadra, decidiu substituir-se às autoridades e cavalgar a lei.
O caso ameaça agora acabar nos tribunais com ativistas e cavaleiro a prometerem recorrer à Justiça. Com posições extremadas, o mais certo é que também este acontecimento acabe em nada. Mas não se pense que do lado dos defensores dos animais só há anjinhos vestidos de branco e que os vilões se sentam todos numa bancada a apreciar a multiplicação das farpas.
Muitos dos ativistas da respeitável causa da defesa dos animais, como alguns que estiveram na Torreira, são manifestantes 'profissionais' que assumem publicamente a causa sem admitir o contraditório das suas opções e reivindicando o direito de manifestação próprio, sem respeitaram o direito à manifestação do outro. E sob a capa do pacifismo, lá vão insultando (como aconteceu em Viana do Castelo) quem opta por assistir a uma tourada, ou riscando e pintando a vermelho alguns automóveis ou arremessando pedras contra cavalos, como denunciou Marcelo Mendes e as imagens amadoras confirmam. Sendo certo que estes despiques são sazonais, não é menos verdade que um dia podem descambar e causar vítimas. Até porque a atenção das polícias a este fenómeno parece ser errante.
