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Há um antes, um durante e um depois sempre que um Governo apresenta o Orçamento do Estado. No antes, a expectativa é quase efervescente, entram em leilão medidas e ambições transformadoras; no durante, ganha ascendente o realismo das contas públicas e as limitações de uma economia periférica; e, quando chegamos à fase do depois, percebemos que, salvo uma ou outra cartada, não é desta que o país sairá reformado à boleia de um powerpoint forrado a tabelas e percentagens. Todos os anos é assim. Porque se confunde a natureza do exercício orçamental com a missão última de um Governo.
O Orçamento do Estado não é uma arma para fazer revoluções profundas. Deve ser aquilo que, em certo sentido, o ministro das Finanças apresentou: uma previsão enxuta das contas, que traduza opções, sem misturar alhos com bugalhos, deixando para outros palcos alterações legislativas profundas. Naturalmente que um documento defensivo como este não entusiasma ninguém, se excetuarmos a sempre salutar circunstância de não ter aumentado os impostos, o que, num país tão castigado como Portugal, são sempre boas notícias.
O Governo devolve dinheiro às famílias, às empresas e mantém a prática consensual de alcançar um excedente orçamental. Tudo assente numa previsão de crescimento económico bem longe dos 3% que nos andaram a vender. Politicamente, e como bem observou o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a simplicidade do Orçamento do Estado está diretamente relacionada com a necessidade de ser aprovado sem levantar ondas. Agrada ao PS, agrada ao Chega, mas não aquece nem arrefece. Para o ano há mais.