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Gosto do presidente da República, por quem tenho estima pessoal. Compreendo as marcas de personalidade que mantém no cargo e relevo as manifestações de proximidade que definiram o cognome que a Imprensa adotou. Os britânicos tiveram a Princesa do povo, nós temos o presidente dos afetos. Será também, querendo, o presidente de todos os portugueses. Não por inerência da função, mas porque não tome partido. Com pena minha, uma ou outra vez tem tomado. Confesso que me custa.
O presidente da República encontrou na possibilidade de um défice de 2,3 % do PIB em 2016, com António Costa a primeiro-ministro, uma "grandiosa realização". Não havia necessidade.
Receber um défice de 11,2 % em 2011, reduzindo-o para 2,98% no final de 2015 (ajuda ao Banif excluída), como conseguiram o PSD e o CDS no Governo - apesar da quase bancarrota, da troika, e do programa de austeridade negociado pelos socialistas em Bruxelas - foi "uma grandiosa realização".
Voltar ao poder depois, já resgatada a soberania económica e financeira, para se alcançar um valor de 2,3% em 2016 (supõe-se, já se verá), menos 0,68 % apenas e com truques extraordinários que não se repetirão - cativação de despesas, venda de F16 à Roménia e perdões fiscais - está longe de ser grandioso. Comparativamente, será uma minudência qualquer. Por isso, achar-se, como o presidente da República quis, que o resultado "é obra do Governo anterior, mas é em larga medida obra deste Governo", equivale à absoluta inversão do mérito. E é ostensivamente injusto.
Tenha-se em conta o filme todo.
Quando António Costa se candidatou, levou a votos uma estratégia validada por supostos "sábios" - chamaram-lhe "Uma década para Portugal" - que antecipava um crescimento económico de 2,4% do PIB para 2016 e 3,1% para 2017. O investimento, por seu lado, aumentaria 7,8% em 2016 e 8,4% em 2017. Como é sabido, em 2016 o crescimento foi de 1,1 %. E o investimento está a cair quase 2%.
O "virar de página à austeridade" mede-se hoje pelo brutal aumento de impostos indiretos. Combustíveis, imposto sobre veículos, IUC, imposto de selo, pagamentos com cartões de débito e crédito, IMI agravado pela beleza das vistas, "fat tax", imposto Mortágua, rendas; em muito daquilo que afeta diariamente a vida das famílias, os portugueses pagam mais.
E a dívida bateu todos os recordes. 133,4 % do PIB - 241 100 000 000 euro, valor que António Costa quis esconder no Parlamento - com o país a pagar em juros o dobro do que pagava em junho.
Grandiosas realizações? Nem mesmo com infinita bondade.
DEPUTADO EUROPEU