A falta de mão de obra na Alemanha é tema de um artigo no "Economist" desta semana. O problema não é específico da Alemanha, faz-se sentir-se em muitos países da Europa, incluindo Portugal. A falta de trabalhadores, que afeta mais drasticamente alguns setores, deve-se à quebra demográfica e à diminuição da população em idade ativa, à fraca atratividade do trabalho em alguns setores da indústria, da construção ou do agroalimentar, e à falta de profissionais qualificados, como os informáticos. Faltam trabalhadores para postos de todos os níveis de qualificação.
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Os países procuram definir medidas de médio e de curto prazo para superar este problema, que se torna mais agudo quando toda a Europa enfrenta o desafio da recuperação económica e da realização de investimentos avultados na construção de infraestruturas e no desenvolvimento tecnológico e das economias e indústrias locais. A atração e o recrutamento de imigrantes para suprir a falta de trabalhadores é uma das medidas sempre discutidas. Porém, apesar de percebida como uma solução por decisores políticos, empresários e empregadores, não tem acolhimento político fácil devido a reações securitárias e xenófobas. Mesmo quando não são maioritárias, estas reações acabam por prevalecer, traduzindo-se em medidas restritivas de controlo das entradas de imigrantes, exigindo que sejam já portadores de vistos e contratos de trabalho. Medidas restritivas que acabam por se traduzir no aumento da imigração irregular, não favorecendo nem os imigrantes que querem trabalhar nem os empregadores que necessitam de os contratar.
O choque entre a racionalidade e o preconceito é bem visível no caso do Reino Unido. Na radicalização que conduziu ao Brexit, a recusa da imigração teria um papel-chave. Já com o atual Governo percebeu-se que a economia corria o risco de estagnar se dispensasse os trabalhadores estrangeiros, anunciando-se agora a intenção de proceder à abertura de milhares de lugares para imigrantes. Sol de pouca dura: a reação xenófoba acabou com a intenção ainda antes de ela se concretizar.
Na Alemanha discute-se agora, entre outras, uma medida já adotada em Portugal. As alterações aprovadas à lei da imigração permitirão a entrada temporária de migrantes para procura de trabalho, facilitando o recrutamento pelos empregadores, minimizando as situações de imigração irregular e melhorando as condições de integração dos trabalhadores estrangeiros. Nem sempre estamos na cauda da Europa.
*Professora universitária