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Se há algo que o futebol tem de especial é a capacidade de ser uma espécie de sociedade sem classes, onde ser muito poderoso e ter muito dinheiro vale muito pouco quando se tem coragem, qualidade e uma capacidade de trabalho acima da média. O que aconteceu nas últimas semanas personifica muito o espírito de sacrifício das equipas portuguesas e a grandeza de Benfica, Sporting e F. C. Porto na alta roda do futebol europeu com o primeiro a apurar-se para os quartos-de-final da Liga dos Campeões; o segundo a bater-se até ao osso com o Arsenal, líder do campeonato inglês, o que lhe permite sonhar com voos mais altos na Liga Europa; e o terceiro a manter a eliminatória bem aberta com o Inter de Milão, podendo chegar à fase seguinte da Champions.
Em contraste, o Paris Saint-Germain, recheado de estrelas e vedetismo perigoso, gasta 728 milhões de euros por ano em salários e já se despediu da Liga dos Campeões, adiando até sabe-se lá quando o sonho de um dia ser campeão europeu. O que marca a diferença entre os três clubes portugueses e um colosso francês, que também coleciona escândalos e episódios de conflitos internos, podia ser explicado como um dos segredos mais bem guardados da história do futebol, mas está ao alcance de quem acompanha o fenómeno desportivo. Os clubes portugueses têm redes bem estruturadas de olheiros, sabem encontrar jogadores de qualidade nos mais variados mercados estrangeiros, apostam forte na formação para otimizar jovens e colocá-los nos mais altos patamares de rendimento, e apostam em treinadores competentes que têm a arte de relacionar o rendimento desportivo com a inteligência e a capacidade de potenciar jogadores. Este é o caminho das pedras, que implica enormes sacrifícios e uma visão empresarial dos nossos dirigentes, muitas vezes criticados por questões avulsas e mesquinhas, mas mostra um princípio básico do futebol: há coisas que nem todo o dinheiro do Mundo compram.
*Editor