1. A coligação governamental voltou a abanar. E desta vez foi a sério, não foi o já conhecido jogo de um pé dentro e outro fora, por parte do CDS-PP. A taxa de solidariedade sobre as pensões pôs de um lado Cavaco Silva e Paulo Portas e do outro Passos Coelho e Vítor Gaspar. Pelo meio, os membros do Governo do PSD dividiram-se. A rotura esteve por um fio, com o presidente da República a evitar, no limite, uma crise política que impediria o fecho da sétima avaliação da troika. Depois da comunicação feita ao país há duas semanas sobre a preservação do atual nível das pensões e da sua irredutibilidade em admitir novos cortes, Portas ficou sem margem de manobra. Os termos em que a questão de uma nova taxa de solidariedade sobre as pensões foi definida pela troika e validada pelo primeiro-ministro, a serem aceites pelo líder do CDS, arrasá-lo-iam perante a opinião pública.
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O impasse instalou-se, com a intransigência dos credores em consentirem deixar cair a medida e com a insistência de Portas em não aceitar contribuir para o "cisma grisalho". E Passos Coelho recorreu a Belém, de braços caídos. A sétima avaliação não se fechava e não havia condições para governar o país. Valeu a intermediação do presidente, que concordava com Portas, e a palavra de Durão Barroso. A redação finalmente consentida pela troika salvou (mal) as faces e a avaliação fechou-se. O desenrolar de toda esta novela permite algumas constatações. Primeiro, demonstrou-se aquilo que já todos tínhamos sentido - a falta de firmeza negocial do Governo, mais troikista que a troika, perante as instituições credoras. Afinal a troika cede, como agora se verificou, perante as consequências danosas que seriam causadas pela sua intransigência.
Segundo, a coligação está cada vez mais frágil, por muitas profissões de fé que façam entre si os parceiros de governo. Tudo o que foi dito dos dias seguintes, demonstra-o bem. Os líderes dos dois partidos dizem apenas o que é conveniente no momento e depois mandam os seus tenores endurecer o discurso. Uma vez mais o taticismo político a sobrepor-se aos discursos da forte e leal cooperação.
Finalmente, ficou claro por que invocou o presidente da República a ajuda de Nossa Senhora de Fátima. Cavaco Silva foi confrontado com uma real situação de crise política que não desejava e para a qual não tinha qualquer solução que não fosse a que sempre quis evitar - a realização de eleições antecipadas. Era o ruir do seu discurso do 25 de Abril na Assembleia da República.
2. A cimeira luso-espanhola aconteceu pela vigésima sexta vez, agora em Madrid. Nada de muito relevante era esperado deste encontro para afirmar calendário, depois das interrupções que aconteceram durante os últimos anos do Governo Sócrates. E assim sucedeu, salvo para a euro-região Galiza-Norte de Portugal.
Depois de grandes debates, agendamentos e até decisões em sucessivas cimeiras do tema das ligações ferroviárias entre o Porto e Vigo, que iam desde o TGV Lisboa-Porto-Vigo até um comboio de velocidade elevada acima do Porto que complementasse o TGV, tivemos de tudo. Mas foram apenas boas intenções, a despeito das pressões exercidas pelos autarcas das duas regiões, organizados no Eixo Atlântico.
Tudo isto, porém, sucedeu noutros tempos, naqueles em que o investimento público era considerado determinante para alicerçar o crescimento económico. A decisão agora tomada de recuperar a linha existente, encurtando a viagem em cerca de uma hora e meia, é de saudar. A ela não deve ter sido alheio o facto de Mariano Rajoy ser galego e discípulo de Manuel Fraga Iribarne.
Esperemos que desta vez seja a sério. Não é o projeto ideal, claro que não. Mas em tempo de crise dos dois lados da fronteira, "quem não tem cão, caça com um gato".
3. Em Amsterdão o Benfica perdeu de cabeça erguida. Tombou com honra, dignificando o futebol e o nosso país. No final do encontro, as reações de Jorge Jesus e de David Luis fizeram a diferença pela positiva, num momento em que fortes emoções os dominavam. É o lado positivo de uma modalidade em que alguns, enviesadamente, só conseguem ver o lado mau.