Hoje está menos mal, mas parece que dá chuva para a semana. É mau para a cereja mas bom para EDP. Para a banca é igual ao litro. Deixámo-la tão entregue a si própria que se generalizou a ideia de que um banqueiro é um homem que te empresta o chapéu de chuva quando faz sol e que to tira quando começa a chover.
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E por falar de sol e chuva, uma das boas notícias da semana diz-nos que Portugal conseguiu funcionar durante quatro dias seguidos só com energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis, ou seja do sol, do vento, da chuva, das marés e da geotermia - recursos que temos em abundância e que ainda mal exploramos.
Num total de 117 horas seguidas, na última semana, não foi preciso recorrer a nenhuma fonte de produção de eletricidade tradicional, poluente e finita, em particular à produção em centrais térmicas a carvão ou a gás natural - recursos que não temos e que precisamos de importar.
Se o acesso e o controlo das fontes de energia definem em boa medida o grau de riqueza e de independência de um país, Portugal só pode queixar-se de si próprio, se continuar a desperdiçar os dons com que a natureza nos abençoa. E entramos no domínio das políticas públicas. Porque uma coisa é, como fez o Governo anterior, concessionar a prospeção de petróleo na costa algarvia, onde queremos turistas. Outra, que se espera, é valorizar o que é nosso e apostar seriamente na produção de energias renováveis e na fileira industrial que lhe pode e deve ser associada.
Desde que encerrámos a mina do Pejão, que não produzimos um quilinho de carvão. E, no entanto, Portugal importa todos os meses 5,5 milhões de toneladas desse minério poluente, para alimentar as centrais de Sines e do Pego, ambas em final de contrato, uma no ano que vem e outra em 2021. É altura de lhes anunciar o velório, e direcionar o investimento em energias renováveis ao nosso alcance.
O que se espera das novas políticas públicas é que se apoie e estimule a autoprodução e consumo de energias renováveis. Para isso, há que simplificar o licenciamento da produção dessas energias nossas, em particular as que nascem da iniciativa dos cidadãos e das comunidades locais, e criar benefícios fiscais que favoreçam quem vai por aí, seja eólica ou solar. Entre uma e outra, eu preferia que o ponteado vermelho que sinaliza os parques eólicos durante a noite fosse azul ou mesmo verde, ou tanto faz. A réstia que me ilumina a mesa no momento em que vos escrevo faz-me lembrar que voltando o rosto na direção do sol, as sombras ficam sempre para trás.