Wake me up when september ends. Esta canção dos Green Day não me sai da cabeça, muito provavelmente porque se adequa ao estado de letargia em que vivemos desde que fomos a banhos em meados de julho - um período que, ao contrário do usual, não acabou nos primeiros dias de setembro.
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"Pedimos desculpa por esta interrupção, mas o programa segue dentre de momentos". Os mais velhos, do tempo da televisão a preto e branco, recordam-se desta mensagem que aparecia no ecrã quando a emissão da RTP se engasgava.
Após esta interrupção, que dura até ao final de um verão anormalmente quente, seremos acordados, no fim de setembro, pelo retomar do programa: o provável chumbo do Tribunal Constitucional à convergência das pensões, a nova austeridade exigida pelo Orçamento para 2014 e pelas conclusões da 8.ª e 9.ª avaliações da troika, o céu plúmbeo devido às nuvens ameaçadores da iminência de um 2.o resgate.
A trégua eleitoral está a acabar. Hoje, votam os alemães nas legislativas. De hoje a oito, votamos nós nas autárquicas. Depois, quando setembro acabar, vamos acordar e enfrentar a triste e dura realidade. Compreende-se que todos os europeus - e em primeiro lugar nós, os "inúteis do Sul" - tenham os olhos postos nas eleições de uma Alemanha unida, forte e rica, poder hegemónico e motor económico de uma Europa de que, mal ou bem, está habituada a escrever a História.
Mas ou muito me engano ou nada de novo virá de Berlim. Nichts neues in Berlin. Nem muitas, nem boas novidades. Tudo vai continuar na mesma. O que não é necessariamente mau. Merkel será reeleita e manterá o apoio financeiro aos países em dificuldades, mas a troco de reformas. Os alemães continuarão solidários, mas exigem solidez. Poderão afrouxar ligeiramente no ritmo do ajustamento, mas desengane-se quem estiver à espera de uma dose extra de generosidade.
O melhor que poderemos esperar do terceiro mandato de Merkel (que deverá bater o recorde de 11 anos no poder de Thatcher) é que ela se sinta com as mãos livres e tenha clarividência para perceber que a única maneira de impedir a desintegração europeia é pedalar sem descanso no trilho do federalismo.
É urgente aprofundar a integração política e completar o edifício da união económica e monetária, para que bens, serviços, capitais e pessoas continuem a circular livremente num espaço europeu articulado por uma moeda única.
Não podemos parar a meio do caminho, sob pena de darmos um grande trambolhão. Uma Europa em que 60 milhões de eleitores alemães decidem o futuro de 503 milhões de europeus é uma Europa incompleta. Não faz sentido que as eleições de hoje para o Bundestag tenham muito mais importância que as de 25 de maio de 2014 para o Parlamento Europeu. Corrigir este desajustamento compete, antes de tudo, aos próprios alemães.