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Não vou discutir culpa. Só ele e ela sabem se há uma vítima e um abusador. Não vou discutir intensidade do ato carnal. Só ele e ela sabem se a lascívia trepou a parede do trauma. Não vou discutir oportunidade. Um abuso, a ter havido um abuso, não é como um arranhão na pele. Um abusador não deixa de o ser porque o tempo passa. Uma vítima não deve abdicar dessa condição porque o tempo passa. Ronaldo é um Deus imaculado. Não o imaginamos falho, ávido de uma inconstância que associamos aos mortais. Kathryn Mayorga acusa-o de uma coisa nojenta. Já lemos tudo sobre esta mulher. Já lemos tudo sobre o que não sabemos que Ronaldo fez a esta mulher. E no meio de tantas sentenças de gatilho, avulta uma fatalidade: Portugal ainda é uma bola saltitante pontapeada por imponderados machistas, gente que aplaude de pé quando uma mulher arde na fogueira, porque essa mulher seduziu - e quem seduz põe-se a jeito -, e portanto só pode ser culpada de um crime que ninguém viu e de que ninguém sabe. Pior do que tudo: no meio desses machistas rudimentares também há mulheres a aplaudir.
JORNALISTA
