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Estive uma única vez na Romaria de Nossa Senhora d"Agonia. Foi há muito tempo, numa outra vida. Vi as mulheres na sua justa "chieira", carregadas de ouro, orgulhosas das origens, dos ofícios das suas mães, avós, trajadas de varina, de lavradeiras, de senhoras finas com saiotes bordados, lantejoulas, vidrilhos e meias de renda. Se eu pudesse aí estaria. Com uma vontade redobrada pela força de tantas mulheres orgulhosas, das que bateram o pé por não terem conseguido inscrever-se. Juntaram-se em protesto e hoje descerão a avenida naquele que será o maior Desfile da Mordomia de sempre. Um dia, avós contarão às netas que uma jovem a quem chamavam Diana virou o mundo do avesso para que nenhuma mulher de Viana ficasse de fora. Quase todas as reportagens falam do ouro. Da mais impressionante mostra a céu aberto do mundo. Do dinheiro, da riqueza mítica das famílias vianenses. Não foi isso que os meus olhos viram quando as viram. O que observei foi outra coisa. Mais poderosa. Sem preço. Esmagadora pela força, pelo simbolismo, pelo respeito. Só quem não é de Viana, ou quem não entende nada de nada, pode afirmar que aquela romaria é uma ostentação de riqueza material. É, sim, a força da memória, são as lágrimas das mães que veem as filhas pela primeira vez a desfilar, são as saudades das que já não estão, é a honra de serem portadoras da história da família, dos seus mortos. O ouro não é apenas ouro. É o fruto do sacrifício de tantas gerações, é a certeza de que se pertence a alguma coisa maior que elas próprias.