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Hoje celebramos o dia da Europa e todos os caminhos vão dar a Kyiv, capital da Ucrânia. Ursula von der Leyen, a Presidente da Comissão Europeia, quer dar um sinal aos Lulas deste mundo e mostrar que o velho continente está ao lado da nação ucraniana e do seu Presidente, Volodymyr Zelensky, até que esta guerra, que acabou com a paz duradoura na Europa, conheça o armistício.
Uso o termo armistício - cessação temporária das hostilidades - propositadamente, pois sabemos que ainda que esta guerra, que já dura há um ano, dois meses e 15 dias, termine, o conflito entre a Rússia e os países vizinhos que em tempos remotos formaram o império russo, continuará enquanto o Kremlin for governado por personalidades megalómanas que pretendem ressuscitar configurações territoriais de há 300 anos - a Rússia imperial czarista.
É o que tem em mente o atual Presidente russo Vladimir Putin desde a ocupação da Crimeia em 2014. O conflito sangrento a que assistimos na Ucrânia, verdadeiramente, não se iniciou naquela fria madrugada de 24 de fevereiro de 2022. Assim foi de facto, mas, de jure, o clima belicista já existia e não tem fim à vista, mesmo que a guerra na Ucrânia estivesse hoje no seu último dia.
E hoje não é um dia qualquer. Além de ser o dia da Europa, é também o dia em que a Rússia assinala a vitória na Segunda Guerra Mundial. É, por isso, que as celebrações europeias em Kyiv têm um valor político e simbólico extraordinário, ainda ampliado pela decisão inédita do Presidente da Ucrânia de celebrar a vitória Aliada sobre a Alemanha nazi, em 1945, a 8 de maio - o dia em que foi assinada pelo Alto Comando alemão, em Berlim, a capitulação incondicional do Terceiro Reich ante os países aliados, terminando a guerra que decorria desde 1939.
A Ucrânia dá assim mais um sinal de querer estar alinhada com a Europa democrática, que quer a paz, afastando-se da parte da Europa que vive subjugada por um regime antidemocrático, que faz a guerra. Não há como esquecer que foi a Rússia
que invadiu a Ucrânia. Estar do lado certo da história é apoiar a nação invadida. É por isso que a posição do Presidente do Brasil, Lula da Silva, é ultrajante. A União Europeia (UE) não está a prolongar a guerra com as ajudas à Ucrânia e as sanções à Rússia. A UE está, juntamente com os EUA e os demais países da NATO, a evitar o genocídio do povo ucraniano. Esta é a diferença entre quem pensa nas pessoas e quem pensa apenas nos negócios. É uma questão civilizacional de que a Europa do século XXI não abdica e ainda bem.
Apesar de todas as dificuldades resultantes do aumento da inflação e da carestia de vida, segundo os mais recentes estudos de opinião, o apoio dos europeus à Ucrânia é hoje mais forte do que era no início da guerra. Nem podia ser de outro modo entre povos humanistas para quem a dignidade humana está acima de qualquer acordo negocial previamente estabelecido. É por estes valores que a Ucrânia se bate nos campos de batalha. É por estes valores que os europeus democratas se unem. É por aqui o caminho da paz.
* Historiadora (HTC - CFE - Nova FCSH)