No entanto, ela move-se. O desabafo, diz-se, foi do físico e filósofo Galileu Galilei, quando a Santa Inquisição o obrigou a retratar-se e a negar que a Terra se movia à volta do Sol. Vem a história a propósito da Associação Nacional de Municípios Portugueses que, parecendo até aqui quase estática perante o Governo e a sua tentativa de impor às autarquias uma descentralização que lhe ficasse baratinha, afinal também se move.
Corpo do artigo
É verdade que foi preciso, primeiro, que Rui Moreira partisse a loiça. E muito criticado foi por isso, nomeadamente por propor que a Câmara abandonasse o fórum que reúne autarcas de todo o país e de todas as cores. O alegado radicalismo do autarca portuense, no entanto, deu frutos. A ANMP não só se moveu como se decidiu, também ela, dar um murro na mesa. Não tanto pela forma, mas seguramente pelo conteúdo.
Basta ler o mais recente documento do seu Conselho Diretivo (ver página 6). Não só se dá pleno cabimento aos argumentos tantas vezes repetidos pelo autarca do Porto (e por outros, na verdade), como se lhes acrescentam mais alguns. Não são só os 20 mil euros previstos para as obras de manutenção das escolas que são em muitos casos "irreais". Nesta absurda armadilha que o Estado tenta impor ao Poder Local estão escolas cujo mau estado o Governo omite, há edifícios sem seguros, valores para refeições e transportes que nada têm a ver com a realidade.
Até as contas com as despesas com os funcionários, que são agora as autarquias a pagar, foram mal feitas. E ainda é preciso acrescentar os "buracos" já assumidos na área da Saúde e os que aí vêm na Ação Social, com o Governo a apontar para um montante no âmbito do rendimento social de inserção que, pelos vistos, também não corresponde à despesa real. Tal como no caso de Galileu, não comete um crime quem usa argumentos racionais para chegar à verdade. Os verdadeiros heréticos, ontem como hoje, são os inquisidores e os adeptos do imobilismo.
*Diretor-adjunto