<p>Passo a passo, das imediações da Torre Eiffel, iluminada a altas horas, até "La Sphinx". Já foi lugar de má reputação, mas agora é boa casa de discos, à beira do Sena. Com uma capa da "Blue Note" a olhar, mergulho no "cauchemar". Sonho que foi descoberto o fóssil de uma nova espécie de homem, e que se trata do líder de um partido de Lisboa. Acordo sobressaltado, mas acalmo-me - com os emigrantes - a pensar que dá gosto ver jogar o Benfica. Para quem gosta só do jogo, e não do resto, incluindo os animais lançadores de cadeiras. </p>
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Acho que me libertei. Não, ainda deliro. Salta uma personagem de "Alice no País das Maravilhas", a dizer que é preciso vender um submarino, para salvar a pátria.
Atrás do chapeleiro louco, surge a rainha de copas, opinando pela alienação da RTP.
Mais distante vem a equipa dirigente da PT, a vociferar: "cortem-lhe a ligação!".
Agora desperto. Mesmo? Ainda não.
Como num espelho, ou como os espectros do "Conto de Natal", aparecem-me os candidatos ao PSD: passado, presente, futuro, futurível. Discutem com a própria sombra. E nesta está um político no poder, refastelado, contente, que grasna: "sejam responsáveis!".
Vejo que, lá no fundo, acha que só lucra, com a aparente fra(n)queza do concurso de beleza laranja.
Mas já acordado (ou…), reflicto sobre o optimismo do cortesão. Face a governos em queda, ou asneirentos, ou com azar, ou com aquela soberba que não prepara para a servidão, ou demagógicos, ou improvisados, pode triunfar-se, mesmo que seja por defeito.
Melhor: podemos suceder por defeito do adversário, e não por mérito próprio. Basta que o povo esteja mais farto do trono do que de qualquer outra coisa, incluindo as pálidas oposições.
O gato na árvore não tem assim razões para rir.
Mas eu também não. Na verdade, ainda não desembarquei do sonho.
Vivo, lá dentro, uma conferência político-militar em Paris. À noite, diálogo fascinante entre árabes e um israelita. A Europa faz o que pode, a França tenta jurar que, com ou sem Sarkozy, há raízes que ficarão. Portugal ensaia explicar que é atlântico, mas que não vive estranho ao mediterrâneo. Sobretudo porque já não há "mare clausum".
Depois levanto-me. Sem greve, deambulo, sonâmbulo. Do céu, olho ruas sujas, e gente descrente, e crianças sem rumo. O meu amado país.
Ainda não acabou o pesadelo.