Um dos mais simples e belos poemas da língua portuguesa, de Carlos Drummond de Andrade, relembra-nos todas as pedras que encontramos no caminho.
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E que todos os caminhos, têm - pequenas ou grandes - pedras. Umas vezes conseguimos remover as pedras, outras vezes precisamos de criar caminhos alternativos.
Neste momento, temos um caminho no qual estão várias pedras. Algumas parecem inultrapassáveis. Outras exigem que nos juntemos para as retirar. Outras poderão obrigar-nos a procurar novos caminhos.
Drummond de Andrade fala-nos de um ponto do caminho em que a pedra ficou para trás. É essa a esperança e confiança de que necessitamos, sem nunca esquecermos que somos capazes de continuar o caminho se tivermos claros os nossos objetivos e o nosso destino.
Ontem, comemorámos o Dia Mundial da Poesia. Um dia que nos remete para uma dimensão humana muito especial. A poesia une a humanidade em torno de um património comum, num território de emoções em que as palavras e as línguas se transcendem em significado.
As dificuldades que vivemos convocam-nos para o caminho dos ideais, do humanismo, que, por vezes, parece ameaçado por pedras violentas e cruéis.
Mas a nossa capacidade de acreditar num mundo melhor é muito mais do que uma força poética. É o caminho que precisamos de percorrer, lado a lado, o caminho do futuro das crianças e o caminho do presente da solidariedade.
Em Portugal, estamos perante grandes desafios, que seremos capazes de enfrentar e ultrapassar, assim o queiramos. Vamos iniciar uma nova legislatura e teremos dentro de dias um novo Governo. Um Governo e um Parlamento que terão de dar respostas rápidas aos problemas mais imediatos e deverão trabalhar em conjunto para que os problemas estruturais encontrem novas soluções, aproveitando as oportunidades que temos de execução do PRR e do novo ciclo de fundos estruturais.
Como sempre, alguns focarão o seu discurso e a sua ação nas pedras que vão aparecendo no caminho. Mas muitos de nós, uma vasta maioria, continuaremos a procurar o melhor caminho e a construir um trajeto coletivo que compatibilize o pragmatismo da realidade com a dimensão poética tão característica de um povo a quem Fernando Pessoa deu uma língua como pátria.
Passo a passo, pedra a pedra, mas sempre no caminho.
*Presidente da Câmara de Matosinhos